Há três décadas trabalho com anoréticos , bulímicos e obesos.No início, na clínica endocrinologia e, agora, na clínica analítica
Há obesos que engordam “comendo ar”, no dizer dos próprios pacientes. Ele, em regime severo e em satisfatório exercício físico, tem dificuldade de perder peso. Nestes casos, acredito que haja um erro metabólico constitucional. Vejamos os fatores que interferem no apetite e no depósito gorduroso.
Podemos dividir em três os mecanismos psicofisiopatológicos, intimamente relacionados, causadores dos distúrbios alimentares:
Anorexia e bulimia são doenças psicossomáticas. A causa principal está no ódio à mãe ou a substituta dela. É forma de Tanatismo (auto destruição inconsciente por predominância do instinto de morte) que se processa da seguinte maneira: as fantasias
O obeso necessita de grande dilatação do estômago para a produção suficiente de endorfina e sentir-se estão saciado. (19,22,28)
Faz-se através do aumento de ácidos graxos livres no plasma, que por sua vez estão influenciados pela lípase e esta sofre o estímulo da betalipotrofina hipofisária, ACTH,TSH, somatotrofina, triiodotironina, epinefrina e glucagon.Por outro lado, haveria baixa da adenosinofosfatase nos eritrócitos que estaria na dependência da encefalina, havendo também baixa de colecistocinina que iria atuar no centro da saciedade.(4,8)
Haveria falta de utilização periférica da glicose, produzindo hiperglicemia.
Este distúrbio parece ser genético (ratos obesos e hiperglicêmicos de MEYER ou ob,ob) e por deficiência do ácido 3,5,3-triiodotiroacético, que exerce efeito lipocítico por inibir a fosfodiesterase, aumento do glicerol plasmático e da hidroprolinúria (13),(28), porém a leptina mostra-se diminuída.
Vejamos estes mecanismos com maior detalhe.
No obeso constitucional deve, portanto, haver erro metabólico, uma alteração na produção do hormônio lipogênico hipofisário (35), ou então um aumento dos ácidos gordurosos livres do plasma ( em grande parte imputável por excessiva síntese não compensada por uma suficiente disponibilidade de alfaglicerofosfato, necessária para a completa esterificação em triglicerídeos).Ainda poderá ocorrer utilização periférica alterada da glicose, pois os ácidos graxos livres dependem da maior utilização da glicose no nível do tecido adiposo (5). Há elevada taxa metabólica nos obesos; ela é proporcional ao excesso de peso. Os obesos tem menos eficácia em contrabalançar ou ajustar as suas necessidades metabólicas.(19)
Valoriza-se, hoje em dia, a fase metabólica na qual a adenosinatrifosfatase exerce um poder especial.(8) A mobilização da gordura contendo mais triglicerídeos se dá pela degradação destes em glicerol e ácidos graxos livres, que são transportados conjuntamente com a albumina. Esta transformação se dá através de uma enzima, a lípase, que por sua vez é ativada pela epinefrina, glucagon.ACTH,TSH e somatotrofina.A mobilização depende da lípase intracelular que é ativada, sendo esta ativação controlada pelo AMP-ciclico que se forma por ação da adenilciclase, provavelmente relacionada ao receptor beta-adrenérgico e localizada na membrana celular. O AMP-cíclico agiria como segundo mediador similar aos primeiros que são os hormônios.Em seguida o autor aborda a incidência da anorexia ( expulsão de objeto mau, ex. alimento-símbolo) e da bulimia ( falta de mecanismo de repressão) aparecendo inúmeros sintomas clínicos devido à correlação destes sintomas com outras alterações hormonais do hipotálamo, tais como amenorréia ou diversos tipos de depressão, obsessões, hipocondria, histeria, ansiedade e laríca ( algo bom que passa na garganta), e dependência. A anorexia pode ser de 3 tipos;completivo, neurótico e psicótico ( que pode acarretar o suicídio). O diagnóstico diferencial se processa pelas dosagens e testes hormonais: GH,ACTH,TSH,TRH,FSH,LH, nor-epinefrina, fenilglicol prolactina, cortisol, estradiol e de- idro-iso-androsterona, como nos mostra o quadro anexo além dos testes psicológicos:Garner, Rorschach e Eysenck. A anorexia é “prima-irmã ” da esquizofrenia. A anorexia e bulimia são somatizações psicóticas paralógicas criando fantasia de outro engendramento, filha colada á mãe, um neo-objeto que é o alimento-símbolo e se cola a ele (Godoy Moreira), havendo ruminação, regurgitação, objeto transacional com alterações na imagem corporal acabando por exercer segurança (identificação adesiva) ou ser auto castigo (kummerspeck) ou ainda bulimia ou obesidade por agressão a outrem. (agredir para ser agredido).
O tratamento deve ser medicamentoso (drogas antipsicóticas, pimozida,olanzapina,risperidal e aripiprazol) associado à psicanálise ou grupanálise, com orientação familiar (Millieu Therapy) para alcançar o “portance” e assim transformar o analista mãe-má em mãe- boa., evitando no caso dos obesos mórbidos, que necessitam submeter-se à gastrectomia parcial.
As mães, principalmente durante a lactação através do reverie, produzem a formação de um “ engrama da fome”; se ela valoriza, excessivamente, o alimento ou super solicitá-lo (mamadas a todo o momento) torna o alimento um símbolo de prazer ou desprazer, segurança ou insegurança, enfim, objeto ruim ou bom, fato este que acarretará uma confusão nos valores do indivíduo. As experiências certas ou erradas ficarão codificadas no cérebro, pois a sucção do seio é a primeira maneira de expressar amor.
A nosso ver, a anorexia, bulimia e obesidade mórbida não são psicoses monossiotomáticas; são uma síndrome do sistema límbico, instalada em indivíduos com ego arcaico e esburacado sobre o qual mensagens bruxas dos pais fazem com que o paciente os sinta como objetos maus. Os doentes acabam se movendo em um mundo do “objetos bizarros”, confundindo fantasias com realidades, cujos alimentos seriam impregnados de partes ruins, os seios que envenenam, daí sofrem de doenças tanáticas.
O obeso, assim como o magro ( na anorexia nervosa), superestima o esquema corporal. O primeiro “precisa” estar obeso e o segundo estar magérrimo para se autocastigarem.
Os trabalhos de GLUCKMAN & HIRSCH (11) e GARNER & col. (10), através de fotografias do aparelho para visualizar partes do corpo e do teste psicológico de Eysenck reveladores de auto-estímulo, comprovam a importância desta autopercepção do esquema corporal.
Estas experiências vêm explicar, em parte, a necessidade que têm os pacientes obesos de mudarem de médicos; novo especialista seria um novo estímulo ( ficam, também, com vergonha perante o facultativo em não ter emagrecido) para ver se conseguem, conscientemente, perder esta imagem corporal, mas que, inconscientemente, “precisam estar com ela para se castigarem e às vezes agredirem outrem: é o tanatismo”. Na anorexia nervosa existiria um sentimento de ineficiência; olhar o próprio corpo esquelético seria não ter o “objeto mau” introjetado no tecido adiposo. Fato similar ocorreria em certo tipo de obeso: ele teria que “verificar” o objeto mau no tecido adiposo para se castigar ainda mais; seria uma distorção da imagem corporal por sentimentos de desespero.Esta distorção de imagem corporal se processaria desde o primeiro período de molde, durante a lactação, pela ambivalência à mãe, tornando-se incapaz de desenvolver satisfatoriamente os seus sentimentos ao seu próprio ego corporal, por causa da hostilidade à mãe.
MEYER & PUDEL (26) estudaram o apetite em mulheres, num grupo sem ver alimentos e outro podendo observar os vários tipos de alimento, mas sem poder ingeri-los a bel-prazer. Concluíram que reações hiperfágicas podem ser secundárias a distúrbios emocionais, sendo possível fator etiológico na obesidade. Todavia, as crianças e velhos podem não apresentar polifagia emocional. As desordens da saciação variam com a idade e o peso corporal, pois os velhos obesos não apresentam a baixa e lenta ingestão de alimentos. A dilatação súbita do estômago, por estímulo do centro da saciação, é nos obesos menos rápida, isto é, parece haver deficiência no cérebro em detectar a quantidade de alimento que pode ser assimilado, fator este de suma importância para regular a quantidade de alimento e calorias ingeridas. Na anorexia nervosa este reflexo está hiperativo e, logo que haja pequena dilatação no estômago, cessa o apetite. (30,d).
O final da absorção dos alimentos de uma refeição não poderia explicar a cessação da fome e, assim, a saciedade ao alimento estaria também no que o referido alimento simbolizaria STUNKARD (33) relata que durante a presença de contrações estomacais em mulher obesa, em jejum, usualmente não se refere sensação de fome ou vazio epigástrico ou o desejo de comer, enquanto que a não obesa, usualmente refere esta sensação.
A nosso ver, excesso ou falta de apetite, embora inato, dependeria dos primeiros meses de vida, no contato do bebê para com a mãe – é o primeiro período de molde. Todavia, HEBB (14) acha que a sensação de saciar-se não é inata e dependerá da educação,BRUCH (2,a) acha que o fator genético sofre também influência do meio. O recém-nado não é mais a tabula rasa do homúnculo. A criança pode aprender, em determinados períodos de tempo, e,para o apetite, aprende desde o momento do nascimento.
Existem dois tipos de apetite: 1) fome por alimento;2)fome pelo que o alimento simboliza ou representa (afeto).Neste último caso, é que a insaciabilidade torna-se importante.Estas condições dependem do primeiro relacionamento com a mãe.BRUCH (2,c), estudando 40 crianças obesas em Nova York, chamou a atenção para a importância dos fatores psicológicos na obesidade, tais como a superproteção materna e a não-rejeição a esta superproteção, ou ambivalência da criança a esta situação, além das experiências que estas crianças tiveram relacionando alimento com as atividades sociais e frustrações emocionais ( crianças amamentadas insuficientemente pelo seio ou alimentadas por mamadeiras), pais infelizes e, finalmente, criança rejeitada e sofrendo de bulimia (comer seria um prêmio de compensação).
Para confirmarem ou não o trabalho de BRUCH (2,c), quatro pesquisadores dinamarqueses fizeram esse estudo em vários grupos de crianças e chegaram á seguinte conclusão: IVERSEN (18) selecionou 40 crianças obesas de 4 a 14 anos e fez um exame psiquiátrico e um inquérito em seus pais. Concluiu que o fator psicogenético poder-se-ia estabelecer certamente em 16 ( em 13 deles a obesidade havia se instalado depois dos 3 anos de vida); nos restantes, era duvidosa a existência do fator psicogenético.
Em 20 casos encontrou uma superproteção materna aceita pelas crianças.Concluiu que os fatores psicogenéticos superimpostos aos fatores constitucionais são importantes na etiologia da obesidade.
NIELSON (32), estudando 61 crianças obesas à luz dos trabalhos de BRUCH, não conseguiu provar a característica falta de cuidado social e psicológico do meio ambiente, nem a característica de super proteção materna; achou que o hábito de superalimentação na família, associado à inatividade muscular, é que seriam os fatores capitais na gênese da obesidade. Entretanto, em estudo individual, notou que, desses 61 casos, 9 eram tipicamente de obesidade psicogenética e 12 duvidosos. Ambos autores não fizeram estudo dos controles e não usaram a análise psíquica, o que tornou difícil uma interpretação exata.
QUAAD (34), em 2.262 crianças, verificou que 6% eram obesas. A obesidade podia ser produzida por fatores psicológicos, que decidem a atitude da criança no meio ambiente para adquirir o alimento. Acha, entretanto que o fator mais importante seria o hábito alimentar da família.
Finalmente, TOLSTRUP (6) estudou 40 crianças obesas e não-obesas sob o ponto de vista de HELDER BRUCH. Verificou que os obesos comiam mais e apresentavam menor atividade muscular. Observou que, em 7 deles, a etiologia era psicológica; em 11, a base psicogenética era provável; em 23 não havia problema psicológico e pôde também notar a influência dos hábitos alimentares da família (excesso de hidratos de carbono).Concluiu que na etiologia da obesidade entram vários fatores, inclusive os psicológicos; mas em outros casos a etiologia seria tradição dos hábitos alimentares.
Entretanto, a maior critica ao trabalho dos dinamarqueses, é que eles não utilizaram a psicanálise para um estudo mais profundo sobre os complexos e sentimentos dessas crianças obesas. Contudo, a conclusão de que 25,6% das crianças obesas tinham como etiologia os fatores psicogenéticos puro, alta percentagem para um estudo como esse, faz ressaltar a importância do psiquismo.
Incluímos a obesidade como forma de tanatismo quando o indivíduo sabe que o se excesso de peso pode acarretar perturbações vasculares e nervosas, principalmente se o indivíduo for diabético, podendo vir a sofrer de infarto do miocárdio ou hipertensão ou acidente vascular cerebral ou neuropatias com algias severas, etc.
Há pessoas que engordam após tensão nervosa, originada por diversos motivos, cujo excesso de ingestão de alimentos dever-se-ia aos seguintes fatores.
Certas pessoas não conseguem emagrecer por falta de força de vontade, não somente por apetite exagerado, como também porque as drogas anoréticas lhes causam grande excitação nervosa. O excesso de apetite reflete muitas vezes a insatisfação psíquica. Por exemplo, o bebê, quando chora, sente-se mal; logo que come, sente-se bem; uma vez adulto, diante de qualquer aborrecimento ou tensão nervosa, come para sentir-se bem, tal como fazia quando bebê.
Em linguagem “bioniana”; introjeta o objeto bom para combater o desconforto causado pelo “não seio”, mas, muitas vezes, ingere de acordo com as suas fantasias, o seio mau, o que vai causar maior insatisfação do que a própria fome (29-a,b).
Certos obesos, consciente ou inconscientemente, encontram portanto, no alimento, uma forma de amortecer suas emoções.
O alimento pode ser, além de um substituto do amor, uma expressão de amor- “fulana é uma uva”, “ fulano é um doce de coco” – como pode ser expressão de descontentamento- “ fulano é um abacaxi”.
É comum o conceito de que, ao se visitar uma pessoa e não se recebendo da mesma café com bolo ou um aperitivo, não se estaria sendo recebido com carinho. A mãe, que se referindo ao alimento diz: “ você ficará mais forte se comer bem”, estará concorrendo para fixar no alimento os futuros problemas emocionais de segurança.
Tivemos uma paciente solteirona que não podia conciliar o sono se não ingerisse tabletes de chocolate; durante sua análise, foi descoberto que o chocolate simbolizava seio materno. Na infância fora criada por mãe pouco afetiva e agressiva; não conheceu o pai, jamais conseguiu amar um homem por medo de ser um dia abandonada; só em pensar nesse tipo de sofrimento, preferia nem começar um namoro. A sua adiposidade era uma defesa, pois se emagrecesse ficaria “apetitosa”, isto é, desejada, o que representaria um perigo: entregar-se sexualmente e depois ser rejeitada.
A análise mais profunda revelou não somente essas causas da obesidade, mas também o desejo inconsciente de agredir a mãe, não se casando (era o maior sonho de sua mãe!); por esse motivo, o medo de casar e ser abandonada era devido ao sistema bumerangue; eu agrido e tenho pavor de ser agredida pelo objeto bizarro, isto é, transformaria o cônjuge como sendo capaz de ter grande poder de maldição.
É, portanto, a obesidade por tanatismo, isto é, agride-se pela obesidade e com isso irá agredir outra pessoa.
Tivemos, também, o caso de uma mulher para qual o alimento era um substituto do carinho, pois o marido era jogador e passava a maior parte do tempo fora de casa, e a paciente não se distraia.
Comer era alimentar-se de amor, mas era, também, agredir o marido, que detestava mulher obesa. Por outro lado, o alimento pode significar segurança, tal como o caso de um paciente religioso que fora criado na pobreza e cujos alimentos não podiam ser desperdiçados. Comia tudo o que lhe punham no prato sem deixar migalha.Desperdiça alimento seria pecado!
As mães neuróticas salientam demasiadamente a importância dos alimentos; querem que os filhos comam tudo que colocam no prato com o intuito de protege-los contra as doenças. Pode acontecer que um indivíduo criado nessas condições, quando tiver um prejuízo financeiro ou fortes aborrecimentos, deixe de comer não só por falta de apetite ou por falta de prazer em viver, mas, também, por falta de proteção (materna).O fato contrário, como já foi dito, poderá ocorrer: comer demasiadamente para se proteger. A satisfação do apetite é, além de motivo de prazer, um símbolo de segurança.Um adulto que não encontra satisfação na vida, rechaça o intenso desejo de afeto dos demais e se refugia nas pautas primárias da conduta, as insatisfações orais.Tenho observado maior dificuldade na execução do regime em obesas criadas por mães pouco afetuosas.
Esse tipo de obesidade não se enquadra no tanatismo.
Consideramos a obesidade como sendo provocada por uma mãe má internalizada, proibidora da genitalidade do indivíduo (castradora) e obrigando a se alimentar de substâncias gordurosas, sendo estas um substituto materno, o que poderia chamar de obesidade de penalidade (“Kummerspeck”).
Temos observado que certos indivíduos engordam para agredir outrem, tais como a mãe, pai,marido, esposa, etc.; seria forma sutil de predomínio do instinto de morte.
Segundo a nossa experiência psicanalítica, a maioria dos obesos tem causas entrelaçadas, como para aliviar a ansiedade de uma autodestruição por sentimentos culposos. É neste caso que a obesidade por agressão, e para se agredir, está incluída nos casos de tanatismo.
Em certos casos, a dificuldade de executar o regime reside na vontade do marido não gostar de mulher magra. A obesidade da esposa, motivo de pouca atração ao sexo oposto, seria um meio para se proteger de uma esposa adúltera. Seria um complexo de inferioridade e insegurança do homem.
Algumas vezes a polifagia seria uma forma de insatisfação sexual, seria um desejo inconsciente de fazer a felação ou cunillingus.
Há obesos que abjuram tanto a adiposidade, que chegam a sonhar com palanque enferrujado, pau podre, o que teria o significado de envelhecimento e autodesprezo. Outros adoram tanto os alimentos, que em sonhos participam de lautos manjares.
Há indivíduos gordos que só vivem para comer e dormir; seriam lactantes semelhantes ao Joe Dickens nas “Aventuras de Pickwick” ou ao Sancho de Cervantes.
Quanto aos fatores que agem nos obesos, seriam eles: 1)predomínio genético;2)exaltação da passividade e supervalorização dos hábitos orais transmitidos pelos grupos familiares; 3) pouca disposição para o exercício; 4) filho superprotegido;5) pai ausente ou débil; nestas condições, há fixação na fase oral e hipotrofia da anal e genital; 6) conflitos inconscientes, objeto mau internalizado; 7) por tanatismo, agredir para ser agredido.
Outra forma, porém mais grave de tanatismo, vamos encontrar no obeso com diabetes melito e que executa mal o tratamento, isto é, não faz certo o regime ( muitas vezes por achar que com as sulfas não haveria necessidade do regime) e acaba com aterosclerose, hipertensão e acidentes vasculares.
Devemos relacionar o paciente diabético com o obeso, no sentido psicológico, não só porque existe uma incidência maior de diabéticos em indivíduos obesos e predisposição genética em ambos, mas principalmente porque eles reagem aos traumas psicológicos, conscientes ou inconscientes, da mesma maneira, isto é, pela bulimia, ou melhor, pela maior excitabilidade dos núcleos ventromedianos do hipotálamo.Os indivíduos podem reagir de maneira diferente aos mesmos traumas.Em geral, os obesos ou diabéticos tiveram traumas na fase oral, motivo pelo qual qualquer emoção, boa ou má, os faz comer ou ingerir alguma coisa. A satisfação oral para o gastrônomo é tão importante que constitui uma diversão especial, igualando-se a qualquer outro tipo de festa, e o diabético é um gastrônomo de hábito constante. O diabético, tal como o obeso, é uma criança: mente, rouba, “faz feio” e torna-se egoísta para satisfazer o seu apetite; se a educação não permite, comporta-se como um cavalheiro ou uma dama na sociedade, para depois chegar em casa abrir a geladeira e o armário, “devorando” os doces e comidas, “ supercompensando” o que não pode fazer na frente dos parentes, “ controladores” e “supervisores” de sua doença.
A dificuldade do tratamento dietético do diabético e do obeso reside na sua falta de força de vontade e na sua “ capacidade de mentir” ao médico, no sentido de ter executado de maneira exata a dieta prescrita. Em grande número de vezes “ mentem inconscientemente”.
De acordo como descrevi, os obesos tanáticos, e pela exposição sobre a psicopatologia do excesso de apetite, as causas da obesidade são várias e mesmo a obesidade essencial ou constitucional ou por erro metabólico apresenta plularidade de fatores, o que torna mais difícil a sua compreensão.
Todavia, a nossa experiência clínica nos faz crer na importância capital da medicina profilática. O indivíduo, mesmo antes de casar, deve se reeducar tanto no ponto de vista de higiene física como psíquica. Por este motivo, acho indispensável um tratamento combinado:psicoterapeuta, endocrinologista, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social.
Pelo exposto fica evidente que em certos obesos o exercício aumenta a polifagia e em outros queima mais calorias; neste tipo é que se deve prescrever o exercício físico.
Certos indivíduos tem tipo de obesidade hidrófila, isto é, com alteração do hormônio antidiurético. Nestes casos, um diurético, tal como a hidroclorotiazida, poderá ser de utilidade no início do tratamento, porém, por resistência e autopunição inconsciente ( não tendo o direito de emagrecer por sentimento inconsciente de culpa), o medicamento não pode surtir o efeito desejado, isto é, diurético. Aliás, em geral, o obeso retém menos água ( o conteúdo hídrico nos tecidos adiposos é até inferior, em porcentagem, ao conteúdo do tecido gorduroso do indivíduo normal) (MOURSE apud CUCURACHI & col (5). Por outro lado,o endocrinologista deveria prescrever um anorético para um obeso neurótico, porém somente em concordência com o psicoterapeuta ( pois existem obesos que “ parecem tolerar” estas drogas, mas só o psicoterapeuta saberá da gravidade do seu estado psíquico, isto é, se ele terá tendência a reagir à droga).Todo cuidado será pouco. O psicoterapeuta jamais deverá ser impaciente com o paciente quando este abandona a dieta ( mesmo sendo criança); orientar a família da necessidade do regime de toda família (“ o que os olhos não vêem, a boca não sente”). O psicoterapeuta de formação analítica somente interpretará a própria atitude e deverá ficar neutro para receber tanto o bom como o ruim do paciente e devolver sempre o bom para a suficiente segurança do indivíduo para assim ele não se utilizar da somatização.
O tratamento da obesidade seria, portanto, eclético e principalmente profilático, evitando-se na família os desajustes dos pais que podem traumatizar o indivíduo nos períodos de molde e assim não ocorreriam confusões emocionais causadoras de excesso de apetite.A psicanálise ou psicoterapia de grupo e o regime alimentar associado ( por outro especialista) são, no dia de hoje, a maior arma que se dispõe para o combate desse mal social, pois o obeso é vitima de atitudes sarcásticas e jocosas, o que ocasiona desgostos e infelicidade.
O paciente acaba percebendo que Deus nos fez diferentes, que cada um tem um defeito ou um desajuste.O obeso por sua vez, nasceu com essa constituição; mas sendo um defeito corrigível, deve se consolar. A maioria deles pode, uma vez normalizado o peso, abusar 2 e até 3 vezes por semana, ou em aniversários ou festas, o que já é uma grande coisa. Os pacientes ficam também sabendo das conseqüências da obesidade, como a insuficiência cardíaca, hipertensão e complexo de inferioridade, o que poderá ajudar o indivíduo a executar o regime.
Pela minha experiência de tantos anos, recomendo em primeiro lugar a psicoterapia analítica de grupo, duas vezes por semana, associada a análise individual por semana.É de duração longa, mas não vai somente ajudar o paciente emagrecer e sim amadurecer a sua personalidade para ser feliz no lar, na sociedade e no trabalho.
Finalmente, posso dizer, baseado em minha experiência, que o obeso está dominado pelo instinto de morte (autodestruição); o tratamento da obesidade depende, portanto, mais dos conflitos inconscientes produtores de culpa e tanatismo, do que de dieta, drogas e exercício.
Anorexia e bulimia são doenças psicossomáticas. A causa principal está no ódio à mãe ou a substituta dela. É forma de Tanatismo ( auto destruição inconsciente por predominância do instinto de morte) que se processa da seguinte maneira: as fantasias inconscientes de agressividade aos pais estimulam ou inibem, lateralmente, os núcleos do hipotálamo lateral produzindo, respectivamente, aumento de orexina ou de leptina ( hormônio que controla também o sono e a vigília) um contrabalançando o outro ( orexina aumentada no sangue tende a diminuir a leptina). Por outro lado, após a ingestão de alimento, com a dilatação do estômago, produz o estímulo do hipotálamo ventro-mediano, elevando o nível de colecistocinina, constituindo o controle ou centro da saciedade. Após excesso de alimento e alto nível de gordura, a leptina encontra-se alta no sangue ativando o núcleo arqueado e é composta da alfa MSH ( hormônio estimulador dos melanócitos) e CART (peptídeo regulado pela cocaína e anfetamina). A leptina aumenta o ACTH e TSH. O camundongo geneticamente obeso (ob-ob) apresenta beta endorfina aumentada e leptina diminuída; esta diminuição faz crescer o nível do neuropeptídeo Y (N.P.Y) que é ansiolítico, (Morgan et al). Ele se origina no núcleo arqueado e amídala. Os neuropeptídeo NPY e AGRP produzidos no núcleo arqueado tem conexões com o núcleo paraventricular e hipotálamo lateral, pois estimula a secreção do TSH e ACTH, sendo denominados de peptídeos orexigênicos. Na anorexia há baixa de leptina, prolactina, 17 beta- estradiol e citoninas ( interleucina e e TGH- Beta 2 ou fator de crescimento) ao passo que na bulimia a leptina pode estar normal assim como o cortisol ( Montoleone et al) que concorre para diagnóstico diferencial.
Os animais com dopamina comportam-se como gostassem da comida mas não a desejasse, tal como ocorre na clínica com os distúrbios alimentares. Os animais não procuram o alimento, mas se tiver come-o. A estimulação de axônios dopaminérgicos no hipotálamo lateral produz compulsão pelo alimento, como soi ocorrer na bulimia, sem aumentar o efeito hedônico do alimento. Por outro lado, o aumento da serotonina no encéfalo diminui o apetite como agem a dexfenfluramina e fluoxetina. No caso da cocaína, em sitio-chave de ação é no núcleo accumbens, pois a cocaína (mesmo a nicotina) prolonga a ação da dopamina neste núcleo, levando tolerância á droga ou a um determinado alimento. No controle do apetite existem três mecanismos: cerebral, plasmático e periférico, nos quais entram em ação da endorfina, lípase, betalipotrofina, glucagon, tiroxina e adenosinotrifosfato.
Em seguida o autor aborda a incidência da anorexia ( expulsão de objeto mau, ex. alimento-símbolo) e da bulimia ( falta de mecanismo de repressão) aparecendo inúmeros sintomas clínicos devido a correlação destes sintomas com outras alterações hormonais do hipotálamo, tais como amenorréia ou diversos tipos de depressão, obsessões, hipocondria, histeria, ansiedade e laríca ( algo bom que passa na garganta), e dependência. A anorexia pode ser de 3 tipos;completivo, neurótico e psicótico ( que pode acarretar o suicídio). O diagnóstico diferencial se processa pelas dosagens e testes hormonais: GH,ACTH,TSH,TRH,FSH,LH, nor-epinefrina, fenilglicol prolactina, cortisol, estradiol e de- idro-iso-androsterona, além dos testes psicológicos:Garner, Rorschach e Eysenck. A anorexia é “prima-irmã ” da esquizofrenia. A anorexia e bulimia são somatizações psicóticas paralógicas criando fantasia de outro engendramento, filha colada á mãe, um neo-objeto que é o alimento-símbolo e se cola a ele (Godoy Moreira), havendo ruminação, regurgitação, objeto transacional com alterações na imagem corporal acabando por exercer segurança (identificação adesiva) ou ser auto castigo (kummerspeck) ou ainda bulimia ou obesidade por agressão a outrem. (agredir para ser agredido).
O tratamento deve ser medicamentoso (drogas antipsicóticas, pimozida,olanzapina,risperidal e aripiprazol) associado a psicanálise ou grupanálise, com orientação familiar (Millieu Therapy) para alcançar o “portance” e assim transformar o analista mãe-má em mãe- boa., evitando no caso dos obesos mórbidos, que necessitam submeter-se a gastrectomia parcial.
As mães, principalmente durante a lactação através do reverie, produzem a formação de um “ engrama da fome”; se ela valoriza, excessivamente, o alimento ou super solicitá-lo (mamadas a todo o momento) torna o alimento um símbolo de prazer ou desprazer, segurança ou insegurança, enfim, objeto ruim ou bom, fato este que acarretará uma confusão nos valores do indivíduo. As experiências certas ou erradas ficarão codificadas no cérebro, pois a sucção do seio é a primeira maneira de expressar amor.
A nosso ver, a anorexia, bulimia e obesidade mórbida não são psicoses monossiotomáticas; são uma síndrome do sistema límbico, instalada em indivíduos com ego arcaico e esburacado sobre o qual mensagens bruxas dos pais fazem com que o paciente os sinta como objetos maus. Os doentes acabam se movendo em um mundo do “objetos bizarros”, confundindo fantasias com realidades, cujos alimentos seriam impregnados de partes ruins, os seios que envenenam, daí sofrem de doenças tanáticas.