A Importância dos Mitos na Psicoterapia e na Psicanálise

Prof.Dr.Luiz Miller de Paiva
Alina M. A. P. Nogueira da Silva

1- INTRODUÇÃO

Mito é a causa secreta de todo o sofrimento da humanidade; para eliminá-la não será  pela tecnologia moderna (computadores, tomografias, etc) e sim pelo conhecimento profundo confiando em nossa intuição dirigida para a bondade e  reverie. Segundo Campbell, (6) a mitologia é um mapa interior da experiência, a  canção do Universo e a música das esferas. A mitologia e a psicanálise podem-se completar e refletir a ânsia evolutiva e o  desejo de autoconhecimento do ser humano. O mito está para o homem das  sociedades arcaicas assim como a psicanálise para o homem moderno.

Mito é forma de expressões há humanidade no seu estágio primitivo e da  deficiência da linguagem em relação ao pensamento. Ele está situado no sonho e no inconsciente, principalmente coletivo (arquétipos) mostrando conflitos da  alma humana, às vezes transmitidos filogeneticamente. O psicanalista parte de  um mito que se apresenta individualizado e, principalmente oculto, e o xamã parte do mito coletivo, já conhecido e consagrado pela cultura.

No mito é comum à falha da memória como ocorreu com Édipo que, diante do beberrão que insinuou não ser ele filho legitimo, motivo pelo qual foi consultar um oráculo. Em nossa experiência o adotado parece saber que não é filho legitimo. É o saber inconsciente que acarreta a intuição, é o Kairós (Khronos), tempo oportuno, temporalidade do inconsciente tal como o exemplo de morrer no dia do aniversário, que interpretamos como fantasia de  não ter merecido ter nascido com tanto sentimento de culpa inconsciente.

Se o homem antigo seguir o curso de algum mito, o homem moderno segue o  seu próprio mito.

O homem seria filho de deuses e demônios, luta entre Eros e Tanato teria, portanto, uma parte divina e  outra demoníaca. Pelo mito grego de Zagreu, o poderoso e empreendedor Gilgamesh, rei de Uruk, todavia violentador das mulheres, foi enfrentado por Eukidu, perdendo a luta; mas tornaram-se amigos e resolveram enfrentar a  morte e também, o touro celestial, porém este destroe Enkidu; Gilgamesh entra em estado de angústia e vagueia pelo deserto, mas não morre.

Utnapishiton ensina-lhe o segredo do rejuvescimento, mas uma serpente rouba-lhe a poção, daí Gilgamesh aceita ser mortal e submeter-se à cultura vigente.

Nós nascemos com inveja (ódio destrutivo), mas contrabalançado pelo Eros, libido (Deus do Amor). O desenvolvimento maior de um ou de outro depende da constituição (ego esburacado de Ammon) (1) com excitabilidade do núcleo amidalóide, controlador da agressividade que por sua vez é estimulado pela nor-epinefrina.

Por outro lado, a inveja seria incrementada pela educação. Se a mãe não der  reverie, amor, aconchego e amamentação, os pensamentos que começam a ser  formados no 1º ano de vida ( o animal nasce e anda; o ser humano leva um ano para utilizar a marcha é a chamada reprogressão) podem ser ruins e agressivos ou amorosos e bondosos, dependendo do comportamento materno. (No  Janseinismo o ser humano nascera com a graça de Deus) Se o ódio predominou teremos a parte demoníaca; a inveja será, portanto, incrementada. Nestas circunstancias, o bebê começa a ter fantasias que podem ser amorosas  ou hostis.

Normalmente (pelo equilíbrio entre Eros e Tanato) as crianças tem ódio de  enxergar o pai junto com a mãe. Aliás, é corriqueiro observamos os pais no  leito, a criança vai deitar-se no meio deles, separando-os. Ao lado disso, ela tem também, fantasias carnibalísticas, de que o pai devora o seio da mãe e esta come o pênis do pai. Se os pais vivem bem, sem muita agressividade, estas fantasias desaparecem. Contudo se houver derriça, briga ou separação, a criança sente-se culpada de tê-los separado. Neste momento, começam as  doenças das mais variadas, utilizam o (copy style), pois a angústia da criança faz diminuir suas defesas imunitarias, que vão refletir no seu futuro comportamento.
Estas fantasias, gerando conflitos, tem  influenciado, sobremaneira, a conduta do ser humano na nossa sociedade, haja vista a formação das diversas religiões decorrente de um grande mito a virgindade da mãe de Jesus. A  criança não admite a relação sexual dos pais daí a imaculada concepção. Além da religião católica, em outras religiões ocorre fato similar mesmo em culturas distantes.Buda nasceu do flanco de sua mãe é um nascimento simbólico (também não admitia o pai junto com a mãe). Mito é, portanto, artefato humano que expressa o  infinito mundo dos sonhos, do imaginário onírico, um composto realidade-fantasia, uma síntese unidade/oposição, uma tensão entre o indivíduo e algo além dele, que marca, de maneira constitutiva e constituinte, a passagem da  animalidade para a humanidade.

O mito revela potencialidades expressivas e deles se origina, expressando de  forma particular o sentido de “religiosidade” do ser humano. Mito é visto como símbolo, cujo núcleo transita entre a individualidade e o universal.

Considera-se a neurose obsessiva como o equivalente patológico do ritual religioso e que possa ser tratada como uma religião primitiva e, a religião, por  sua vez, como uma neurose obsessiva universal.Neste contexto, Dafne pode ser reconduzida ao sânscrito  AHANA, que  significa aurora. A história de Febo e Dafne outra coisa não seria do que a  descrição do aparecer da aurora, seguida pela aparição do deus solar que  persegue a sua esposa Dafne, que foge empalidecendo até dissolver-se  no colo de sua mãe, a terra. Então a mitologia é, em uma palavra, a sombra opaca que  a linguagem joga sobre o pensamento e que não poderá nunca desaparecer enquanto linguagem e pensamento não coincidirem perfeitamente.

Mitologia se produz agora tal e qual acontecia nos tempos de Homero. (17)

Mito pode ser considerado como um composto “ realidade-fantasia” e uma  presença cuja formulação ocorre por meio da própria palavra. Quanto à  metáfora é possível reencontrar nela resíduos de linguagens mágico-simpatéticas, magia dos sinais, dos sons e da forma. As modificações aparentes do mito e, portanto, da metáfora, acompanham modificações equivalentes da  linguagem. Cada magia  é impregnada exatamente dessa crença do poder real e realizante dos desejos humanos. “ Imagens paridas da imaginação mítica” falando, entre outras coisas, da inexorável excomunhão da figura autoral. Poderíamos dizer que  a separação entre a corporeidade e  Binário se faz ainda mais evidente no mito de Dédalo onde o Uno é  abandonado e o Binário, sentindo-se libertado, acredita poder voar.

2 - ESTUDO COMPARATIVO

 O estudo comparativo das mitologias do mundo nos compele a ver a história cultural da humanidade como a unidade; pois achamos que temas como o roubo do fogo, o dilúvio, a terra dos mortos, o nascido de uma virgem e o herói ressuscitado estão presentes no mundo atual, aparecem em toda parte sob novas combinações e se repetem como os elementos de um caleidoscópio.

Uma única e amplamente difundida família de idiomas que deve ter-se originado de uma única fonte e inclui, além do sânscrito e do páli ( a língua das escrituras budistas), a maioria dos idiomas do norte da Índia, bem como o cingalês ( a língua do Ceilão), o persa, o armênio, o albanês, e o búlgaro; o polonês, o russo e as outras línguas eslavas, o grego,o latim e todas as línguas da Europa, com exceção do estoniano, do finlandês, do lapão, do húngaro e do basco. Dessa maneira, uma série contínua da Irlanda à Índia fora revelada. Não apenas as línguas puderam ser facilmente comparadas, mas também as civilizações e religiões, mitologias, formas literárias e modos de pensamento dos povos em questão. Por exemplo, o panteão védico da antiga Índia, o dos Edas da Islândia medieval e o Olímpico dos gregos. Não é de se admirar, então, que essas descobertas causassem tamanho espanto entre os principais sábios e filósofos do século!

“O mito”, como viu Thomas Mann, (29) e com quem muitos dos psicólogos profundos concordam “é o princípio da vida, a ordem eterna, a fórmula sagrada para a qual a vida flui quando esta projeta suas feições para fora do inconsciente”.

O homem é miticamente falando, criado pelo espírito. No entanto, o homem se distingue de todas as outras formas de vida, pelo fato de que é o ser tornado consciente: intelectualizado e individualizado. O mito de Prometeu conta à história específica do despertar da consciência.

O mito: é, portanto, a narração fantástica de deuses e heróis, que pertence ao patrimônio cultural de um povo. Fundado sobre uma tradição oral ou escrita, tem geralmente um estreito vínculo com a religião, formando a razão de crenças e rituais. O mito traz vestígios das partes primitivas e rituais da humanidade, são os arquétipos. É interessante levar em conta as inter-relações entre mitos, sonhos e pensamentos inconscientes, a ponto de os mesmos serem colocados por Bion (4) na mesma categoria C do eixo genético da grade.

3 - REPROGRESSÃO

Reprogressão: (31,a) em grupanálise é a regressão no sentido de ulterior progresso: o animal nasce e imediatamente anda, diferentemente do ser humano que leva um ano para caminhar.

Este é o resultado de mutações ocorridas no cérebro humano principalmente no lobo-pré-frontal aumentando o seu desenvolvimento quanto às conexões dendríticas, capacidade bioquímica dos neurônios e configurações do super ego, característica do hominidae e, principalmente, de ter a capacidade de formar fantasias inconscientes e mitos.

Adão e Eva, segundo Sicuterí (50) e Heinemann  (16) não foram os primeiros a habitar o mundo. Adão, na realidade, era muito mais animal do que mostrou Miguel Ângelo na Capela Sistina. A primeira mulher de Adão foi Lilith. Eles separaram por que ela disse à Adão: “porque o homem sempre quer ficar em cima”?

Julgamos que as religiões  erraram em valorizar a sexualidade para a expulsão do casal do Paraíso Terrestre. Todos nós nascemos com amor e ódio aos pais, contudo se predominar o ódio teremos a inveja que é sempre destrutiva.

Há, portanto, no início da vida um equilíbrio entre Eros e Tanato. Pais que brigam ou se divorciam faz aumentar a culpa causada pela fantasia inconsciente de matá-los, pois a criança acha que ela é causadora dessa derriça ou da separação. A criança vendo os pais deitados na cama coloca-se entre eles – é a fantasia inconsciente de separá-los.

Então, a expulsão do paraíso não é só causada pela culpa decorrente da desobediência,mas, principalmente, pela própria fantasia inconsciente da inveja de vê-los juntos, pois o seu cérebro já estaria desenvolvido o suficiente por já ter o super ego  (censura).

 

4 - MITO DO ETERNO ABANDONO

A longa dependência dos pais faz aumentar o medo de ser abandonado por não estar preparado para enfrentar a luta pela vida, daí o mito do eterno abandono em conseqüência, principalmente, da falta de amor e reverie da mãe para o bebê. No grupo, sonhos coletivos (arquétipos e mitos) dependem da função alfa do cérebro segundo o conceito de Bion.(4 ) O indivíduo reage a este abandono pela repetição compulsiva.

 

5 - REPETIÇÃO COMPULSIVA

A repetição compulsiva pode ser por ansiedade ou por defesa decorrente da situação arcaica de inveja; O ódio é decorrente desta situação gerando culpa e depressão. A repetição parece impor o princípio do prazer. 

O aparecimento da doença do Neutro é para repetir a sensação de ser abandonado novamente pela agressão ao analista, criando o mito do eterno abandono. (31,a).

6 - PERÍODO DE MOLDE-INVEJA, INATA, FIGURA COMBINADA

A inveja é inata. Nascemos com ódio à figura combinada (sensação de ter mãe e pai perseguidores) o que produz intensa culpa que ocasiona muitas das doenças mentais e psicossomáticas.

Estas culpas ficam gravadas no cérebro primitivo ou memória não conscientizada, localizado nos núcleo  da base ( de 1 a 3 anos de idade). Estas fantasias produzidas neste período dificilmente são lembradas.

Os períodos de molde ganham, cada vez mais, importância na constituição da personalidade e no comportamento agressivo.O desejo está ligado a traços mnemônicos (memória de recordação localizada no hipocampo e lobo temporal) que ocorre no 2º período de molde.

7 - O MITO DO ETERNO ABANDONO E OS DADOS HISTÓRICOS

No Gênesis I, 1-28 nos aparece um Adão andrógino, enquanto no espaço entre o Gênesis I e II, se pode deduzir que Adão manifestasse a sexualidade acasalando-se com os animais. É somente no Gênesis que o primeiro homem aparece dotado de alma e capaz de conhecer a necessidade de mulher. Deixou de ser Enkidu, hirsuto, musculoso e com força excepcional (3).

Gênesis II,20: "... Mas para o homem não achou um ajudante que fosse semelhante a ele".

No texto são evidentes os traços obscuros de urna remoção da bestialidade adâmica. Adão conseguiu superar a sexualidade tal como ser vivente. A nosso ver houve mutação na escala animal, daí o aparecimento na terra inibe no qual processou-se o desenvolvimento do  cérebro pré-frontal, as conexões dendríticas e o aumento da bioquímica cerebral acarretando o nascimento do superego, assim surgiu o sentimento de culpa. Não seria a necessidade genital e sim mais completa e altruística, o verdadeiro amor (entranhamento Sincrônico) devido ao desenvolvimento do lobo pré-frontal. Em ENKIDU  foi projetada pelos babilônicos, a imagem do  1º Adão-ENKIDU que se afastou das  práticas sexuais depressiativas quando conseguiu reconhecer a mulher pela identificação com o divino.

Depois de ser expulso do Jardim do Éden, Adão, o primêvo homem, esteve sob banimentos; durante este período ele gerou espíritos, demônios machos e fêmeas noturnos com fantasias eróticas.

Do Torah ( o ensinamento) e dos Midrashim ( a Procura) contidos na Misnach  (coleção de  Códigos) escritos pelos rabinos iluminados pelo carisma e pela Fé, vieram esses ensinamentos, além dos testemunhos de lendas, mitos, sagas, alegorias e usos folclóricos populares (30) (51).

Nas escrituras, se pode buscar a presença de Lilith como primeira companheira. Ao que parece, muitos estudiosos e exegetas do Gênesis se encarniçaram na procura de "provas" e até T. Reik (44), para justificar o seu enfoque de Lilith, saiu-se com esta rápida observação a propósito das duas versões bíblicas:
“o nosso primeiríssimo ancestral deveria ser um viúvo ou um divorciado”, quando o Senhor lhe conduziu Eva. Ou talvez Adão teve contemporaneamente duas mulheres. Isto poderia harmonizar as duas versões bíblicas".

Lilith, para nós, nasce, talvez, do sonho ou da narrativa dos rabinos e da necessidade ou de uma fantasia coletiva.

Deus então criou Lilith, mas usando fezes e imundície ao invés de pó puro que provocava em Adão uma sensação desagradável e angustiante.

Sangue e saliva pertencem à "mulher da primeira vez". Adão se afasta desgostoso , isto é , amedrontado por isso Deus teve que fazê-Ia urna segunda vez, e esta foi Eva. (3) (6) 
Lilith,demônio feminino da noite, sobrevoa como mito a Suméria, Babilônia, Assíria, Cananéia, Pérsia, religião hebraica, árabe e tectônica. Na Suméria, ela foi, a princípio, Lil, urna tempestade destruidora ou espírito do vento. Entre os semitas da Mesopotâmia, ela ficou conhecida como Layl ( a palavra hebraica para a noite) ou Lulti =lascívia, isto é, um demônio noturno que agarra os homens e as mulheres que dormem sozinhos provocando-lhes sonhos eróticos e orgasmo noturnos, uma prostituta que fornica com homens portanto, denominada Serpente Tortuosa, porque seduz os homens a seguir caminhos tortuosos, cujos lábios jorrava mel. Os cabalistas  dizem que é através do mistério de seus adornos que ela pode seduzir os homens. Lilith abandona Samuel, o marido de sua juventude.Com receio de que Lilith e Samuel infestassem o mundo com sua prole demoníaca, Deus castrou Samuel (8).

Segundo o Zohar (58), depois da queda, Adão decidiu fazer penitência pelo seu pecado, abstendo-se de ter relações com Eva durante 130 anos. De acordo com rabi Maier, no Talmude (51), Adão cobriu a cintura com espinhosos ramos de figueira para evitar o ato sexual com Eva. Durante esse tempo, Lilith visitou Adão enquanto ele dormia, sozinho, sonhando, e se satisfazia, montada nele, provocando-lhe poluições noturnas. As criaturas nascidas dessa união são chamadas de os "flagelos da humanidade".

Ser a parte ativa e conscientemente sedutora de uma relação é, para uma mulher, uma experiência numinosa. Na época babilônica, quando os cultos da Deusa floresceram, 

Lilith tinha como função reunir os homens na rua e trazê-los para o templo. Ela usava seu poder de sedução. O Velho Testamento, que documenta o advento do patriarca, está repleto de histórias de mulheres que usavam seu poder de sedução igual a sua Lilith  de modo consciente, para realizar os objetivos de seus egos. As histórias bíblicas de Raquel, Tamar, Dalila, Judite, Ester, Rute, Batseba, as filhas de Ló, a rainha de Batsebá, Yael e Débora enfatizam este conceito.

Seguramente a agressividade masculina inserida na sociedade hebraica e estruturada rigidamente em sentido patriarcal acentuava os valores patrilineares.

O mito de Lilith representa certamente o arquétipo da relação homem-mulher, ao níveI mais primitivo no sentido evolucionista.

O amor de Adão por Lilith, foi logo perturbado; não havia paz entre eles porque quando eles se uniam na carne,evidentemente na posição mais natural - a mulher por baixo e o homem por cima - Lilith mostrava-se Impaciente. Assim, perguntava a Adão. " Por que devo deitar-me embaixo de ti? Porque devo abrir-me sob teu “corpo?”- "Por que ser dominada por você? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual". Perguntamos: "Adão não satisfazia Lilith por sofrer de orgasmo precoce? Medo de ser castrado por fantasia de incesto? Inveja Inata?

A recusa de Adão em conceder a inversão das posições no coito, ou seja, recusa em conceder a paridade (orgasmo) significativa à companheira, Lilith pronunciava irritado o nome de Deus e, acusando Adão, se afasta. Enquanto isso acontece, Adão é colhido por uma sensação angustiosa de abandono provável por culpa em não satisfazê-Ia. (3).

A serpente-demônio impele a mulher a "fazer algo", isto é, procurar o orgasmo com outro homem. É o demoníaco manifesto. Ela está rodeada por todas as criaturas perversas saídas das trevas, dominada pelo ódio devido a não satisfação.O nome sofre profundas transformações, mas passa conceitualmente para o mundo grego mediado pelas Clitemnestra, Lâmias, Erínies, Hécate ou Empusa ou Medusa, ou seja, sempre como nome de  demônios femininos ou entidades maléficas. Em símbolos de transformação Jung (26), fala da história de Lilith comparando-a ao mito de Lâmia que seduz. A ciumenta Hera vingou-se fazendo com que ela gerasse apenas crianças mortas. Desde então, a irada Lâmia tem perseguido as mulheres grávidas, raptando bebês e estrangulando-os. As Fúrias eram chamadas servas de Hécate, ou "cadelas negras".

A Empusa (Medusa ou Górgona) é uma mulher com cabeça e tórax humano; em lugar dos cabelos, tem serpentes retorcidas e sibilantes. Cuculcán para os Maias representava a serpente emplumada e Coatlicué para os astecas, ambas deusa, ambivalentes, tipo figura combinada (31,c).

A medusa representa o ataque de fantasias e desejos que, em vão, são censurados  (15). Demeter grande mãe, boa para a filha ligada a Perséfone depreciava a figura masculina (15). Perséfone, no  culto romano, transforma-se na temida e tenebrosa Proserpina, rainha guia nos  infernos, levando uma romã, fruta significante amor destruidor.

A aparição deste demônio estava sempre relacionada com situações sexuais, transgressões da moral matrimonial ou perversões secretas.

É interessante mencionar a idéia de Aristófanes, segundo a qual Lâmia possuía características hermafroditas e tinha também um falo Segundo Kerényi (19) pode-se falar delas no plural  e por isso Lâmias  o que se justifica pelo fato de ela poder se transformar em mais de uma figura ao mesmo tempo, daí mulher fálica, hodiernamente denominada 
"piranha" - mulher castradora e destruidora. Lâmia se  agachava com a vagina sobre o membro ereto do homem; em outro sentido, esmagava-o com  os joelhos apoiados sobre o tórax, comprimindo-o, que no sonho produzirá excitação oníricas e polução com a violência da  MORMOLYCEA ( apud Sicuteri).

Eqüídea, nasceu da Terra e é irmã das Górgonas. Seu nome pode significar "Víbora". Na mitologia é considerada a esposa de Tiron, o irredutível inimigo de Zeus. Do conúbio Eqüídea gerou filhos horrendos: Cérebro o cão infernal de três cabeças; símbolo da agressividade e o oposto a Santíssima Trindade; Hidra a serpente marinha de sete cabeças que vivia em Lerna; e Ortro, outro cão infernal.

Eqüídea é assim descrito por Hesíodo. (3)
... a divina feroz Eqüídea: metade dela se assemelha a uma graciosa e jovem virgem, e metade a serpente terrível e enorme..."

Para Jung (26), Eqüídea tem um valor basilar enquanto mãe da Esfinge, que constrói todo o problema da libido fixada na mãe e no incesto. Por isso será o protótipo mais marcante da Bruxa medieval, ligada ao dragão.

Jung (26) vê  Eqüídea, valendo-se da lembrança de um exemplar dos Evangelhos, do século XVI  que se encontra em miniatura, a mulher, bela como a mãe de Deus, está com a metade inferior do  corpo constituída por um dragão.

As Fúrias são chamadas de Servas de Hécate ou "cadelas negras" ou então Erínies que são três:

Aleto, Tisífone (ou Nemésis) e Megera, nascidas do primeiro grande parricídio. Em Orestes de Eurípides (23) são descritas as tremendas inquietudes alucinatórias e o medo daquele que, no delírio psíquico e no sono perturbado, sente e vê se agitarem ao seu redor os fantasmas e os íncubos que o oprimem. Orestes, enfermo, está preso aos tormentos. Assiste-o Eletra, que tenta confortá-lo, mas o momento de lucidez que invade o herói é dominado pela angústia: e eis as Fúrias que se aproximam de Orestes, que debate para defender:

Eletra - Piedade irmão, piedade, ai! O teu olhar está perturbado, em um instante se torna louco!

Orestes - Oh, mãe, suplico-te, suplico-te, não arremesse contra mim as virgens de cabelo hirto de serpentes e de olhos que sangram! Ei-las, ei-las! Estão aqui, lança-me, tenho-as em cima!

Eletra- Oh, pobre querido, não te movas, acalma-te Não vejas nada daquilo que a ti parece ser certo e que te faz pensar que sabes. É uma aparição.

Orestes - Febo, matar-me-ão as terríveis deusas subterrâneas, as sacerdotisas do inferno, de olhos de Górgonas e de vulto de cadela.

Eletra - Eu não te deixo, agarrar-me-ei a ti, apertar-te-ei entre meus braços, impedirei que tu, em teus sobressaltos, possa ferir-te.

Orestes- Não, deixai-me! Sois uma das fúrias e me mantendes na vida para atirar-me ao Tártaro.

A ameaça das fúrias - que não queriam absolver o matricídio de Orestes - de derramar sobre a Ática o sangue jorrante de seus corações. No mito, está oculto um eufemismo através do qual há referências ao sangue menstrual. Este é um mito arcaico de bruxaria onde se pretendia que, para maldizer uma casa, ou um campo, as bruxas menstruadas deviam correr nuas muitas voltas ao redor da zona a ser atingida com o sortilégio, na direção oposta à do sol, por nove vezes.

Orestes, de fato, atormentado por remorsos, depois de ter assassinado a mãe deitava-se com os narcisos e foi tomado pela psicose. (23)

O elemento fundamental da psicologia das Amazonas é: a rejeição ao homem e a intolerância absoluta em relações ao amor e ao matrimônio.A palavra original "amazona" significa "sem seio", (A figura do mito é porque as amazonas exprimirem traços belicosos experiência matriarcal).

É na obra de Ésquilo, As Suplicantes (23), que se pode compreender as Amazonas. Obrigadas a se casarem (este é o desenvolvimento do mito na trilogia inacabada de Ésquilo), as Danaídes, com uma exceção, mataram os respectivos maridos.

Como as Danaídes são temidas por sua paixão pelas armas, assim Circe é temida porque, longe de ter aspectos ou atributos demoníacos ou infernais, apresenta traços femininos sensuais, sedutores e devoradores. Outrossim, Circe, em confronto com Lilith, exprime a rejeição ao “patronato” masculino e  assim domina todo homem, subjugando-o com os próprios encantos (23).

Uma vez ainda Adão-Ulisses se "alia" ao princípio paterno-divino, para impedir a ordem natural que se manifesta em Lilith-Circe. É o confronto entre as forças absolutas (inconsciente superego) e o pensamento consciente.

O alho, segundo a lenda, protege da aproximação da mulher maldita e, assim tornou-se um talismã contra Hécate e suas perigosas manifestações. Tranças de alho, de resto, eram penduradas fora de casa para manter distantes os demônios lascivos e as bruxas.

Medeia, sacerdotisa de Hécate, a trágica amante de Jasão (23) (25) puniu de maneira vingativa o amado, matando-lhe os filhos.

A Medeia de Eurípides representa a mulher que vive inteiramente a tensão em relação à própria liberação do jugo patriarcal e das leis impostas pelo homem. Medeia, como Lilith, primeiro triunfa e depois entra em contenda com o homem que a rejeita e a exclui. 

A intensa agressividade dos homens às mulheres, pisoteando as, vamos encontrá-la na perseguição às bruxas, na idade média. Para nós,essa obsessão de fantasia assassina seria decorrente ao ódio inconsciente à mulher símbolo da mãe-má. Interessante é que, raramente se queimava um bruxo!...

No famoso Formicarius de Johan Nider, de 1430, é descrita pela primeira vez a bruxaria, e somente em 1489 virá à luz aquele incrível texto “psicopatologia sexual masculina” escrito por Heinrich Institoris e Jakob Sprenger, intitulado Malleus Maleficarium (25) onde se pode colher esta informação apud Sicuteri opus cit pg. 112

Porque sem dúvida, se não existissem a iniqüidades das mulheres, mesmo não falando de bruxaria, atualmente o mundo permaneceria livre de inumeráveis perigos.

A armadilha psicológica dispara, como dissemos, graças também às perseguições religiosas, porque por detrás da bruxaria havia o álibi de heresia.

A equação bruxaria e feminino é elaborada por G. Visconti, em 1460, em seu Laminarium sive striarum opúsculo, enquanto Vignati, jurista, relaciona  os “excessos sexuais” como adoração ao diabo.
Conclui-se, a propósito da perfídia, que na época ela é encontrada muito mais entre mulheres do que entre homens e o Malleus Maleficarium, procurando a causa, pode acrescentar que assim como as mulheres são privadas de todas as forças, tanto da alma quanto do corpo, não é de espantar que existam muitas bruxarias.

Afirmava-se que a bruxaria considerava a relação sexual entre homem e mulher de modo proeminente entre todos os outros malefícios. O conceito é claro: as bruxas eram figuras castrantes e o medo inconsciente dos homens  de que elas lhes arrancassem o pênis, uma fantasia portanto, de impotência ou castração ou orgasmo precoce  interessante é que  boa parte dos homens gosta de mulher “Vâmpes”, são seduzidos por elas, mas tem muito receio. São exemplos de Mata-Hari, Marilyn Monroe, Madona, etc na fantasia inconsciente, o diabo, através da bruxa, impederia á penetração na vagina, ou, se isto ocorria, imediatamente se daria a depleção do membro viril.

Nas páginas do MalIeus Maleficarium sentimos vibrar todas as angústias possíveis, como se o homem devesse verdadeiramente combater os terríveis fantasmas, sofrendo abertamente o terror do insucesso no coito.

A masturbação excessiva  encontra-se nos esquizofrênicos que, não tendo tido afeto da mãe e do meio  consciente, procura-os em si mesmos. As palavras da esquizofrenica esclarece-bem: “ é um sofrimento ver um  seio oferecido com amor e, ao saber que  ao se aproximar dele só nos resta odialos, como haviamos odiado o da nossa mãe”. Tenta-se chegar ao seio e  tenta-se morrer, uma terceira parcela de si, não tenta. (Laing,28).

Como vimos, a falta de reverie da mãe dificulta o amadurecimento do indivíduo. Margarette Mead (32) verificou nos indígenas das ilhas Marquesas que a tribo de Arapeshi, criada com amor, paz e tolerância, as mulheres eram normais; porem na tribo de Mundagumor, cujas mulheres eram agressivas, guerrilheiras e imperialistas encontra-se vômito gravídico, frigidez, falta de leite materno, aborto, parto complicado e  suicídio ( ia se entregar, de barco, as outras tribos).

Moebius escreveu: “ A imbecilidade psicológica da mulher” (34) devido a  desvalorização do feminino naquela época. Aliás, no celebre conto alemão dos  Nibelungos o caso de Siegfried. Rei Gunther antes do seu casamento com Brunilda  pediu a Sigfried para  substituí-lo, mas este teria que vencer  3 provas  de força para então casar com Brunilda, rainha bela e forte “ como doce homem”.; Siegfred com um gorro mágico vence. Cumprindo a promessa, a rainha casa-se com o rei, mas não tem  relações com ele. Gunther recorre novamente a Siegfried e este, na  obscuridade, deflora Brunilda e esta perde toda a força. Cremilda por inveja narra a verdade, vários assassinados ocorrem e termina o reinado.

Murray (apud Sicuteri) (50) escreve que durante a orgia sabática e o rito de fertilidade na Missa Negra, provavelmente eram empregados falos artificiais. De Príapo aos cultos fálicos grego-romanos; esta prática sempre permaneceu em evidência. Não se deve excluir que a alta solicitação de prestações sexuais por parte das mulheres na reuniões obrigasse os homens e o "chefe", a recorrer uma vez advinda a fadiga, aos falos artificiais.

O total das mulheres queimadas vivas como bruxas ou endemoniadas durante a inquisição não será jamais conhecido.

O resultado final foi um sentimento de medo e de ódio contra as mulheres. Contra aquelas mulheres que, ou eram dotadas de forte sexualidade ou então eram elas mesmas transbordantes de ódio porque insatisfeitas, descuidadas e oprimidas pelo homem patrão.  O casamento com esse tipo de mulher, é chamado de confarreatio, alimento de amor infame ligados pela hóstia  amaldiçoada em missa negra.

Santa Tereza nos deixou, com certeza, sua experiência do inferno como manifestação alucinatória do instintual: Ressentimento da intensa culpa de um verdadeiro ataque de  angústia. As dores do corpo eram insuportáveis.O suíço Fussli pintou  O incubo, em 1782.

Nele o artista retratou uma jovem mulher adormecida, emborcada no leito em uma posição determinada pela intuível angústia; descomposta e percorrida por evidente energia negativa que a mantém sufocada.

Do fundo da cena, no escuro no quarto fora do cortinado, irrompe a horrível figura de um cavalo enfurecido, força primitiva.

A morte amorosa, Gautier apresenta na figura de Clarimonde a ampliação da mulher perversa e demoníaca emprestada da clássica imagem medieval, que arremessa o homem em uma angustiada confusão.Também em Baudelaire há a exaltação do eterno feminino ambivalente e terrível.

Fausto goetheano que nos deu a mais importante simbolização da bruxaria.
Talvez uma bruxa se decida pela feIlatio ( na missa negra), mas com maior freqüência o Diabo oferece o traseiro para que lhe seja beijado o ânus. Durante as danças no Sabá, as bruxas ao passar, imergem a mão esquerda na bacia de água "santa" que é, na verdade, urina do Diabo; fazem um sinal da cruz ao contrário. O pênis seguindo a regra demonológica da inversão - está ficando posteriormente sobre o osso sacro. Para a psicologia profunda temas e personagens da mitologia não são simples objetos de conhecimento. São realidades vivas do ser humano, que existem como realidade psíquica. A psicanálise se volta para a mitologia não tanto para aprender sobre os outros no passado, quanto para compreender a nós mesmos no presente.

A bruxa só existe enquanto existe alguém que acredita firmemente nós efeitos de sua ação.

Em Bali, a figura de Rangda representa o espírito maligno feminino.

Sicuterí (50) aventura-se uma hipótese acerca da loucura de Nietzsche, considerando-a como uma identificação com Lilith, isto é, com a animal sombra vivendo em conflito com o superego invisível, onde, enfim, o ego cedeu sob a pressão do grande despertar do Dionísio-Kundalini-Lilith?

Segundo, Lou Salomé (36), o crime original do homem, cometido numa sombria época pré histórica da humanidade e perpetuado pela repetição no imaginário infantil, seria conseqüência do medo (terror) da mulher-mãe-fálica. Essa é a verdade fundamental da psicanálise, a verdade do desejo. O Pai da horda primitiva excede a Lei. Ele é a própria lei. Sua morte e sua introjeção pelo banquete totêmico,  fundam a Lei Fálica Universal. O reconhecimento da universalidade do Falo, a submissão à Lei Paterna, é condição de consistência das estruturas inconscientes individuais e dos grupos.

O fato do mito originário, excluir a mulher desse ritual sangrento e do banquete Totêmico, não deixou de trazer dificuldades (culposas)  desenvolvimento do Homo Sapiens com predomínio do Homo Mythicus.

O mito segundo Buttman e Miller, em Mauro Naves (36), é forma de expressão da humanidade em seu estágio primitivo e Ceuzer diz "o mito é a veste do símbolo". 
Pode ser, também, deficiência da linguagem em relação ao pensamento. Para Eliade (11) o mito no homem moderno está, sobretudo, situado nos sonhos e no inconsciente.
Jung (26) refere ao inconsciente coletivo, um reservatório de temas arquetípicos, representante dos conflitos da alma humana, bem como meios de administrá-los e superá-los. 

O mito articula pólos apostos: mulher-homem, instinto de vida e morte e pode  ajudar a compreensão dos conflitos durante uma terapia e de modo indireto ajudar o  paciente a resolvê-los. Os Freudianos acham que o mito não é comprobatório e sim confirmatório.Segundo Naves (36) se Édipo não suspeitava do nível inconsciente da adoção, como explicar a sua reação diante do beberão, que numa festa no palácio real, insinuou não ser ele filho legítimo de Polibus e Mérope? Como explicar que não satisfeito com as explicações dos pais fosse, em sigilo, consultar o oráculo? A nossa  experiência nos confirma sobre o saber inconsciente existe no adotado (31,b).

Teseu,matando o Minotauro, objetos maus internalizados agressivos à figura feminina) esqueceu  de trocar as velas negras de seu navio por velas brancas, como tinha combinado com o pai. O rei Egeu, achando que o filho tinha morrido em combate, suicidou-se.Nenhum esquecimento é inocente.Eis o mito de Sísifo que esqueceu de  voltar ao mundo dos vivos por castigar sua mulher por não lhe ter prestado honras fúnebres.O castigo imposto por Zeus, a repetição continua sem êxito, encontramos em muitos pacientes que executam uma tarefa sem vontade e tem como castigo o mito que pode ser individual, eis o exemplo do indivíduo que julga que vai morrer no dia do seu aniversário e falece, mesmo.

Podemos pensar  através da preconcepitiva que os pais de Édipo não o desejavam, seria um filho de ambivalência preconcepitiva. Eles deveriam ter sentimento filicida.
Édipo, como filho da ambivalência preconcepitiva realiza sua vingança mediante o  incesto com sua mãe Jocasta. O incesto é a vingança edípica com  máscara de amor pois, onde existe o amor, o incesto é vencido.

Paul Delvaux em “Vênus Adormecida”, nos mostra, em ambiente de Classicismo grego uma mulher nua, deitada e outra mulher, vestida de cerimônia aponta a caveira ao lado daquela; significado; analítico seria o de mostrar como o prazer sexual deve estar ligado à morte. Aliás, Salvador Dali na escultura “La Licorne”, mostra o  cavalo com um só chifre ( símbolo fálico de pureza e neutralizador de venenos) como  potência masculina (horse-power) penetrando de maneira delicada na muralha em forma  de coração,  com o intuito de retirar sangue (deflorar), da medrosa rapariga nua prostrada no chão.

“ O  canibalismo de outono”, de Salvador Dali, no qual um homem e u’a mulher se entranham, um comendo o outro.No quadro observa-se facas, garfos, etc., tudo “engavetado” de maneira canibal.Estas fantasias podem permanecer, até a vida adulta se  houveram derriças, brigas e separação dos pais, levando os indivíduos à impotência e  à frigidez.

8- EXEMPLOS CLÍNICOS

CASO Nº 1

Com esses quadros e esculturas em nossa mente, tivemos uma sessão grupal na qual passou-se o seguinte fato:

Srª Infeliz no casamento, com vários filhos, marido chauvinista, dominador, avarento, bruto e agressivo,vivendo em derriças freqüentes e sempre frígida. Ela sentia o ato sexual como se fosse entre dois homens.

Jamais se masturba; excessivamente religiosa.Desde criança sentiu-se marginalizada por não ter nascido homem, causando desilusão ao pai e teve  inveja do irmão, o “figlio maschi”, o possuidor de todos os direitos. Com a evoluir da grupanálise, tomou conhecimento das elaborações de suas fantasias inconscientes de agressividade ao seu pai, também déspota (superpondo-o à imagem do marido e do forte ressentimento que tinha da mãe por ter sida fraca e  muito submissa) por ocasião de uma sessão de grupanálise disse: “ Realmente tenho medo de ficar louca, mas ultimamente, tenho me sentido perseguida pelo medo da morte”. “ Fui influenciada por amigas a ir á ópera, resolvi, então, ir à costureira fazer uma roupa, pois dia 1º faço 40 anos e coincide com a inauguração da temporada lírica. Escolhi um vestido de cor roxa, mas me deu a impressão de morte. A cor me lembrou caixão de defunto; enfim, tive a impressão de que estava comprando um vestido porque ia morrer no dia do meu aniversário.Após a opera “ madame Butterfly” ( que suicida-se) tive, pela primeira vez, orgasmo. Precisei chamar o pronto socorro, pois achei que ia ter um derrame cerebral similar do da minha falecida mãe”.

CASO Nº 2

Outra paciente do grupo, (que perdera a mãe quando tinha 3 anos). Seu pai, aos 6 anos, internou-a em um colégio, sentindo-se abandonada e revoltada, tornou-se uma pessoa invejosa, pseudofrígida e insatisfeita com tudo e com todos, diz também ter tido dois sonhos:

“Eu estava tendo um coito com o meu marido e não sabia se era anal ou vaginal”.

Ao lado, uma freira (que me mimou muito no tempo de internato) pergunta: dói muito? Eu disse que sim, que doía muito, mas falei rindo, a freira ficou confusa e trouxe-me uma toalha e sabão para eu me limpar. Neste momento, a freira, com  saia transparente, deixa ver um enorme pênis; quando a olhei de novo, ela transformou-se no padre do filme de Buñuel que havia matado o jardineiro.

Apavorada, vi, de relance, o revolver do meu marido, peguei-o e atirei bem no meio do crânio dele”.

O outro sonho:

"Eu passeava na Estação da Luz com o pênis do meu marido colocando-o na boca, como se fosse chupeta. Resolvi chupa-lo e como saísse esperma, fiquei com raiva e acabei mordendo. Nisso o marido (que já estava possuidor do pênis) reclamou de dor. 

Com ódio, retirei de novo o pênis e joguei-o, na latrina (nesse momento já estava em meu apartamento)".
Estes sonhos foram interpretados que as pacientes sentiam o coito como agressivo, sujo, mas que causava certo prazer, conquanto a fizesse sofrer. A freira seria o analista-mãe que tenta ajudá-la, porém, este passa a ser perseguidor quando verifica ser ele a mãe combinada com o pai (figura combinada) (31, a, b, c) o grupo com, um todo, mostrou fantasias inconscientes, assassinas ao analista ou de eliminá-lo, também. A mãe da paciente falecera de tumor cerebral, dai o seu pavor de sofrer o mesmo mal da genitora, se tivesse tido orgasmo - medo da Pena de Talião.

O segundo sonho também foi interpretado como inveja do pênis. O sair com ele para passear seria ter a sua posse total tornando-se, assim, mais segura e sem tanta censura; a Estação da Luz representaria a gestação incestuosa (pois, seu pai morava no interior do Estado de São Paulo) e, como tivesse sentimento matricida, agride e, na vigência de ser agredida, castra o homem-analista, possuidor de algo forte que causa inveja.

Estas fantasias vieram esclarecer que, se obtivessem o prazer genital, seriam por dois motivos castigadas: primeiro, por medo de ser agredida pela mãe se obtivesse o orgasmo (não se sentia na direito de ter prazer genital), e, segunda, por sentir-se, possuidora de vagina dentada castradora do pênis tão invejado (ódio à figura masculina). 

Por outro lado, as pacientes não sentiam, também, satisfação em viver (as suas crises depressivas eram acompanhadas de idéias de suicídio) e, freqüentemente, uma delas tinha amenorréia (interpretado como deseja inconsciente de não ser mulher devido ao seu conceito de sexo frágil) (31,c).

A associação entre a morte e a vida, veio em seguida a diversas considerações feitas pelo grupo. O analista mostrou, então, que o medo que se sentia pela morte, não era medo da morte física e sim medo da morte de um tabu do que resultava o nascimento da realidade.

Para que a mulher realize seu desejo no orgasmo completo precisa participar integralmente do encontro emocional e sexual com seu parceiro. Mas a ausência  de acordo carnal não significa necessariamente, pelo menos não para a mulher, a impossibilidade de um relacionamento criativo.

O sofrimento masoquista de uma paciente histérica que sente o analista como frustrante e punitivo, pode servir como defesa contra a excitação sexual e os impulsos edípicos positivos implicados: a mescla de tristeza, raiva e autocompaixão reflete um  estado afetivo complexo.

Quanto as origens da correlação entre orgasmo e medo da morte, estão elas nos conflitos infantis, nos períodos de molde (31,e).Para esta compreensão, vamos nos basear no escritor Yukio Mishima, narcisista, homossexual, exibicionista, fetichista, atormentado por inúmeras fantasias sadomasoquistas e do mesmo tempo gênio (31,f).

Tinha uma insaciável necessidade de mostrar-se superior a todos em múltiplos terrenos.

Mishima, por provável medo da mãe, tornou-se homossexual, diz: “O excremento simboliza a terra, e não cabe dúvidas de que foi o malévolo amor da mãe terra que me tentou” (31,f).

Como vimos no paciente B, o pênis como chupeta. Algumas vezes, o orgasmo precoce e  o corte ao orgasmo se o pênis penetrar, são fantasias dominadas pelo instinto de morte.

Inclusive nos animais existe o instinto de morte, agressividade por inveja é inata; ver quadros de Dali:- Gala ácido desoxiribonucléico; mostrando como o ódio (inveja) é genético.

Através das sessões grupais pode-se, portanto, evidenciar, de maneira clara, como elaborações secundárias das fantasias inconscientes, carregadas de ódio, aumentam o instinto de morte, de tal modo que este irá impedir o orgasmo (pseudofrigidez e impotência) e inclusive o prazer de viver. Se essa culpa inconsciente for menos intensa, ela não impedirá o orgasmo clitorídeo ou a introdução do pênis (orgasmo precoce) ou certo prazer em viver; todavia, se a culpa for acentuada, ela  dificultará para a mulher, o orgasmo com o pênis dentro da vagina ou levará à impotência no caso do homem, devido à forte agressividade à parceira; na mulher essa  culpa é reforçada pela culpa falocêntrica (mulher-serva).Concluímos: o indivíduo se defende diante de um mal maior ( a morte) preferindo um mal menor ( a pseudofrigidez ou a impotência).

9- A FORÇA DO INCONSCIENTE É INCOMENSURÁVEL

A concepção sem amor (mãe com sentimento filicida inconsciente ou o não desejo do desejo) levaria o concepto à infelicidade, à insatisfação pela vida, como procuramos demonstrar em 254 casos. (31 b,c,d).

Um analisando diz: - "sonhei que havia assassinado 783 indivíduos. Puxa! Como estou louco!" Durante a análise, verificamos que esse era o seu n° de matrícula no Colégio Militar - seria, portanto, uma fantasia de autodestruição por ter esse sentimento filicida.

"A pílula anticoncepcional, despertando o objeto aletargado (símbolo da mãe má)". Se tivermos o conhecimento da influência da tensão pré-menstrual através dos aumentos dos estrogênios, antidiurético, aldosterona e progesterona causadores de sintomas de ansiedade, irritabilidade, depressão, estufamento e mal estar, por estimular os conflitos inconscientes com a figura materna, (intemalizada como má), estaríamos, portanto, mais aptos para tratarmos essas pacientes, abaixando os referidos hormônios, seja por drogas ou pela psicanálise ou grupanálise e evitar, assim a derriça conjugal e familiar Por outro lado, nós temos problemas da sincronicidade para descrever coincidências significativas.

Exemplo da própria vida de Jung (26) nos ajudam a entender melhor o que ele queria expressar com a palavra sincronicidade. Em carta a J.B. Rhine, pai da parapsicologia, 

Jung descreveu um incidente que considerou como sincronicidade: uma sua paciente sonhou com uma raposa. Ao acordar a raposa verdadeira surgiu.Outra paciente sonhou que estava desejando um rapaz, seu conhecido, ficando muito excitada; no dia seguinte encontra esse rapaz, eles se ruborizaram.  Bolem (26) cita o seguinte caso: Um negro sentou-se para ouvir os cânticos de Natal. Assim que sentou, ele pensou em sua família e em seu avô que o amava e que o levava à igreja.

Lembrou-se da canção favorita de seu avô e teve uma premonição. Estava interiormente convicto de que o coro entoaria o hino favorito de seu avô. Seu raciocínio lógico porém lhe dizia que não. Afinal estavam ensaiando cânticos de Natal. E enquanto brigava dentro do rapaz a intuição e seu raciocínio lógico, o coro começou a entoar a canção favorito de seu avô, cuja letra era: "Eu venho para o jardim, enquanto o sereno ainda permanece nas flores, e ele caminha comigo, fala comigo, e me diz que eu lhe pertenço ... 

Ele me diz que não estou só". Então, quando a canção começou, ele sentiu dentro de si a mais profunda paz que jamais houvera antes experimentado em sua vida. Naquele momento de paz profunda, que foi um momento de sincronicidade, ele soube que sua vida tinha um propósito e que não estava sozinho. O místico indígena é também um Xamã, que parece entrar num campo mórfico próprio assim que inicia a prática xamânica. 

Outro exemplo de sincronicidade descrito por Jung (26) vivenciado por ele mesmo. Lembrou-se de ter acordado com uma aguda dor de cabeça e incômoda sensibilidade na parte posterior do crânio. Ao retomar a Zurich ficou sabendo que um paciente seu havia se suicidado naquela mesma noite, com um tiro na testa, tendo a bala se alojado na parte posterior da cabeça.

Muitos acontecimentos sincronísticos podem também ser descritos por termos parapsicológicos tais como telepatia, a comunicação de uma mente para outra, précognição, através da qual uma pessoa tem um sonho ou premonição de algo que vai acontecer no futuro. Essas experiências que se enquadram no reino da percepção extra sensorial (PES) conexão invisível entre nós e os outros, entre nós e a natureza.

A analista (23,b) sente se mal, durante a grupanálise de um paciente verborrágico  que contou que ele se sentia no meio de um enorme rio; nesse momentoso mal estar desapareceu e ela disse: "você sente pequeno em rio grande". Ele responde: "sinto-me com tontura e mal estar". A analista fez uma auto-análise e recordou que durante a sua terapia havia vivenciado o seu nascimento e revelou ao paciente que o rio simbolizaria um estouro da bolsa, "Você está revivendo isso aqui". O paciente disse: "incrível, já nada sinto". Ambos, o paciente e a analista tiveram uma sincronia ou consonância, tal como a telepatia e premonição ocorrendo no espaço-tempo relativo (vibração macro-micro similar o que se processa com a comunicação mãe-bebê).

DVANI: A tradição hindu ensina: O "dvani" é a fala que faz ouvir o que ela não diz. Conta a historiazinha, de maneira ingênua, para nos induzir a penetrar na verdade que ela oculta, o seguinte: Uma jovem esperava seu amante à margem de um riacho, quando vê um brâmane caminhando por ali. Ela vai até ele e exclama em tom amável: "Que felicidade hoje! O cão que nos amedrontava com seus latidos não está mais ai, pois acaba de ser devorado por um leão que freqüenta estas redondezas..."

O desejo do desejo é que não haja empecilho (superego severo) ao seu amor, isto é, ao encontro com seu desejo, seu amante. Porém, mais profundamente, o matar o brâmane é matar ou afugentar os pais internalizados como castradores que impedem o amor.A fantasia de matá-los acarretaria em ficar  frígida ou censurada e, também, acarretava culpa por ter essa fantasia.

É, portanto, o dizer na segunda intenção, o que está atrás do que se diz.

Kukua (21)  foi o primeiro monge japonês a estudar Zen na China. Quando voltou ao Japão, o Imperador lhe perguntou o que era o Zen; ele fez profunda reverência, tirou das dobras do seu quimono uma flauta, soprou uma nota; guardou o instrumento, fez nova reverência e desapareceu. É possível se tentar uma interpretação psicanalítica para esta atitude: "eu já posso ser homem, já não me sinto impotente diante da autoridade-pai, e não preciso dele...".

A psicossomática atual aproveita os ensinamentos das preconcepções para lançar as hipóteses do Ândrus, gynus e andróginos para a compreensão do transexualismo e de certas formas de transvestismo e homossexualismo (31,i). Aqueles é de origem psico-endócrino (presença do antígeno Hy ou do gene SRY) e estes últimos são por erros de educação dos pais, na infância.Através da correlação da luta ou guerra dos sexos e mitos, pudemos exemplificar casos clínicos com esses conflitos decorrentes de fantasias inconscientes tanáticas e aproveitando, os conhecimentos da moderna física  quântica sugerir como os pensamentos e fantasias inconscientes, através das  mensagens bioquímicas, pode atingir o desejo, a libido e inibi-los.

10- O MITO DO ETERNO ABANDONO E OS DADOS PSIQUIÁTRICOS

Muitos casos de neurose obsessiva não são mais de neurose e sim de psicose. Acreditamos que o fator genético na estrutura frágil do cérebro reptiliano e os erros de educação nos períodos de molde são fatores importantes na formação e evolução do comportamento humano. Esse conceito pode ser corroborado pelo estudo da história: como o homo sapiens tende a imitar os seus antepassados - um verdadeiro “copy-style”. 

Segundo Mircea Eliade (11), fatos demonstram que para o homem arcaico, a realidade é imitação de um arquétipo celeste. 

Os rituais e os gestos profanos significativos que, só assumem o significado que lhes é atribuído, por repetirem deliberadamente esses atos praticados ab origine por deuses, heróis ou antepassados.

Na cosmologia iraniana de tradição zervanita, “todos os fenômenos terrestres abstratos ou concretos correspondem a um termo celeste, transcendente, invisível, a uma “idéia”, no sentido platônico.

Uma Jerusalém celeste foi criada por Deus, antes de a cidade de Jerusalém ter sido construída pela mão do homem: é a ela que o profeta se refere, no Apocalipse sírio de Baruch, II, 2, 2-7.

Na Índia: todas as cidades reais indianas, mesmo modernas, são construídas pelo modelo mítico da cidade celeste.

Os aborígines do Sudeste da Austrália, por exemplo, praticam a circuncisão com uma faca de pedra, porque foi assim que os seus antepassados míticos lhes ensinaram. 

Todos os atos religiosos foram inaugurados pelos deuses, heróis ou antepassados míticos. Toda a ação humana adquire significado na medida em que repete exatamente uma ação realizada no princípio dos tempos, por um deus, um herói ou um antepassado. 

O homem não faz mais do que repetir o ato da Criação.

Esse amor cristão está consagrado no exemplo de Jesus. A sua prática anula o pecado original e diviniza o homem. Aquele que crê em Jesus pode fazer o que ele fez, tal como quando se crê no analista, que pode solucionar os conflitos, através dos conhecimentos dados e o sentimento de fé.

Os casamentos constituem rituais que imitam gestos divinos.

Todas as danças eram originalmente sagradas, pois tinham um modelo extra-humano. Se esse modelo foi um animal totêmico, os seus movimentos foram reproduzidos, para alcançar a incorporação do homem no animal é a peregração.

O próprio estado de beatitude, a eudaimonia, é imitação da condição divina, para não falar das diversas espécies de enthousiasmós criadas na alma do homem, pela repetição de determinadas ações realizadas pelos deuses in illo tempore (orgia dionisíaca, etc.). 

Há transformação do homem, em arquétipo, através da repetição.

A existência histórica de um herói não pode ser posta em causa, e conhece-se até a data de sua morte. Mas, uma vez entrada na memória popular, a personalidade histórica de herói é abolida; parece ter sido feita a biografia de Cristo, que é reconstituída de acordo com os modelos míticos.

No carnaval, há uma expulsão anual dos pecados, doenças e demônios, tolerando-se os excessos: é, no fundo, uma tentativa de restauração. 

A construção de um santuário ou de um altar de sacrifício repete a cosmogonia, e isto não só porque o santuário representa o Mundo, mas também porque encarna os vários ciclos temporais. Entre os Navajos, o mito cosmogônico é narrado sobretudo por ocasião das curas. A cerimônia inclui também a execução de desenhos complicados na areia (sand-paintings), que simbolizam as várias etapas da Criação e a história mítica dos deuses, dos antepassados e da humanidade. O Ano Novo é sempre uma retomada do tempo  no seu começo, ou seja, uma repetição da cosmogonia. No Ano Novo, se repetem os momentos míticos da passagem do Caos à Cosmogonia. Todavia, durante a terapia, a volta à análise é repleta de culpa pelas fantasias inconscientes de assassinar o analista, por ter  abandonado.

Podemos observar que o que domina todas essas concepções cósmico-mitológicas é o regresso cíclico daquilo que anteriormente existiu, em suma, o “eterno retorno”. 

Também aqui vamos encontrar o motivo da repetição de um gesto arquetípicos, projetado em todos os planos: cósmico, biológico, histórico, humano, etc.Na técnica psicanalítica o retorno à infância, principalmente através da análise dos  Sonhos. Volta-se a recordar os traumas sofridos nesse período, mas todavia com apoio interpretativo do analista ( superposto a imago aos pais); ele, paciente, elimina o sentimento de culpa.

Segundo o Levítico 12, 1-5, a mulher fica impura durante quarenta dias depois do nascimento de um filho, e oitenta dias depois do nascimento de uma filha.

O homem que fundiu o cristianismo com o ódio ao sexo e ao prazer numa unidade sistemática foi o maior dos Padres da Igreja, Santo Agostinho.

Para Agostinho,o ódio ao prazer era ainda mais importante do que a insistência no fim procriativo de todo o ato conjugal.

A associação de Padres Católicos e suas esposas foi fundada em Bad  Nauheim em 1984, conta oitenta mil padres casados, 20% do clero católico no mundo.

A fobia de mulher, confome encontramos, diagamos, em Agostinho, poderia ser vista só como uma aberração particular grotesca ódio á mãe má, teve conseqüências, que  significaram um trauma imenso para as mulheres.

Em 1994, João Paulo II revogou “ essa dádiva sem preço”, podendo as mulheres novamente ajudarem na missa contra pois  a humilhação.

Salmo 50,7 (protestantes 51,7): “ Minha mãe concebeu-me no pecado se não for por amor o indivíduo nasce infeliz. O pecado dos pais durante o ato sexual é a razão para o pecado original ser passado aos filhos, prazer um nome sujo.

Cardial Hugúcio descobriu uma maneira: “ Posso cumprir minha obrigação para com a esposa e aguardar até que se tenha saciado em seu prazer. Com efeito, nesses casos as mulheres estão muitas vezes acostumadas a sentir prazer antes dos maridos, e quando o  prazer da mulher no ato físico tiver sido saciado, posso, se desejar, me afastar sem satisfazer meu prazer, livre de pecado e sem deixar o sêmen fluir” atitude de sofrimento de auto punição. Aristóteles chama as mulheres de arren peperomenon, um homem multilado ou imperfeito. Assim, depois da morte pelo fogo dos hereges, veio a morte pelo fogo das feiticeiras, episódios que na Alemanha foram destinados a reduzir a cinzas uma porcentagem nada  desprezível da população feminina e uma grande parte das parteiras.

A Alemanha tornou-se o maior país com agressividade à mãe feiticeira, onde ocorreu o maior número de julgamentos por feitiçaria. O jesuíta Friedrich Von Spe, apesar do perigo de ser condenado à fogueira, se colocava contrário aos julgamentos em sua Cautio criminalis.

A inferioridade da mulher ( feminina, em latim) pode ser vista no seu próprio nome: “ pois femina vem de fé e minus ( com menos fé), por ser a mulher sempre mais fraca em manter e sem preservar sua fé. Na cerimônia dos judeos ortodoxicos quando falece uma parente, a mulher é proibida  de rezar, ela só pode ser feita por um homem.

Paulo VI lançou sobre o controle de natalidde em Humana e  Vitae  foi a alegação de que a  contracepção “ deve ser condenada tanto quanto (pariter damnandum est) o aborto” ( n.14). Tem- se aí uma enorme dramatização da contracepção. 

Esse “eterno retorno” revela uma ontologia que escapa ao tempo e ao devir.

A referida repetição  tem um significado: é ela que confere uma realidade aos acontecimentos. Estes se repetem porque imitam um arquétipo: o acontecimento exemplar. 

À luz da doutrina Kármica, os sofrimentos não só adquirem um sentido, mas também um valor positivo. Os sofrimentos da existência atual são merecidos. Segundo a concepção indiana, o homem nasce com uma dívida, tal como o pecado original, no catolicismo: fantasias inconscientes de amor incestuoso e agressão aos pais.

O sacrifício de Abrão não é mais que o sacrifício do primogênito. O primeiro filho era muitas vezes considerado como o filho de deus. Com o sacrifício desse primeiro filho, restituía-se à divindade o que lhe pertencia. O sangue jovem aumentava a energia esgotada dos deuses.

Abraão , relato bíblico e pela lenda ( agadá ou haggadah), parecia ser impotente com Sara ( por casamento endogênico com manutenção da problemática edipiana), embora não o fosse com a escrava, o que pôs fim ao processo de  se tornar independente. Para Abraão  matar o filho significaria também obedecer e  curvar-se diante da vontade do próprio pai; daí matar o carneiro, com chifre, no lugar de seu filho Isaac. Até hoje na religião Judaica, no dia  do Yom Kippur ( dia do Perdão), toca-se o  shofar ( trombeta feita de chifre de carneiro), o que representa o lamento, o arrependimento do povo por ter sido fantasias inconscientes de assassinato do pai e do filho. Com o decorrer dos tempos o holocausto do carneiro transladou-se para uma parte do corpo humano, com a circuncisão do prepúcio ( simbolicamente um ato de sacrificar o filho por  método suave e deslocado para um órgão; outrossim, é ato de castração para que o filho não rivalize com o pai e, ao mesmo tempo para que obedeça ao pai, revivendo a morte daquele indivíduo que quis matar o próprio pai).Não somente o judeus, mas também certas tribos africanas praticam a circuncisão.

Oscar Wilde (39) refere essa condição em lindo verso:

“ E que não haja ninguém que ignore:
Todos os homens matam o que mais amam,
Com a mirada de ódio matam uns,
Outros com frases enganosas matam,
O covarde o faz com um beijo
O bravo com a espada”.

11- A MITOLOGIA E O SENTIMENTO DE ABANDONO

I-O incesto sempre fora uma preocupação inquietante para para os cientistas e para os grandes pensadores. Adonis jovem belo, filho do incesto de Mirra e Chipre, foi transformado  em árvore cuja casca se abriria e o bebê não sofreria. Adonis conquistou Prosérpina passando 6 meses com ela e outro tanto com sua esposa Vênus.

Todos os homens necessitam tal como Teseu do Fio de Ariadne para destruir o Minotauro que seria a fantasia inconsciente e culposa. Todavia, olividou o contrato feito com seu pai Egeu de içar a bandeira branca ( da vitória) motivo pelo qual vendo o erro, o pai suicidou-se. O outro herói mítico que os homens devem introjetar seria Perseu, filho de Zeus que penetrou no presídio de Diana,(ou Dafne ou Ártemis) engravidou-a, o rei Acrísio ficou aterrado, pois um oráculo predissera que seria assassinado pelo seu neto. Colocou-o em um cofre e jogou-o no mar: fora salvo e criado pelo rei Polidezes tornando um jovem encantador. Perseu no banquete ofereceu trazer a cabeça da Medusa, monstro com serpentes no cabelo, para isso ele colocou as sandálias aladas, sacola de mendigo e cabeleira negra. Deveria para vencer a Medusa, não olhá-la de frente. 

Enfrentou  as fúrias (Megera, Alecto, e Tisífone) através de um espelho por isso dominou e cortou a cabeça da Gorgona. O rei Acrísio não se conformou e fugiu para Larissa por medo das mensagens bruxas do oráculo. Perseu foi para lá lhe devolver o trono, mas entrou em combate e o seu disco decepou a cabeça do sogro, confirmando a maledicência. Perseu não aceitou a herança e foi para o reino de Hades. O mito de Perseu, vencendo a Medusa, símbolo da mãe castradora é o que todo o analisando deseja  solucionar a impotência genital, e o orgasmo rápido, por medo da vagina dentata e ficar livre para a boa execução do ato genital.Outrossim, as mulheres fálicas são encontradas, também, na deusa índia Kali, Ártemis  etc, mas o quadro de Dorothea  Tanning dominado “Noite Nupcial”é o mais explicito. 

Perseu sendo acolhido por  Dictis pode  significar a  entrada da figura  paterna na  relação. Neste limiar evolutiva da-se que a cissão da figura paterna em uma só figura má, persecutória representada por Polidectos e, a  outra boa-bem fazeja por  Dictis.

O conteúdo lactante deste mitema reintera a figura combinada, ao retorno a configuração esquizo-paranóide assim como a saída de Perseu do lar e sua viagem para combater o seu complexo de castração ( enfrentar a Medusa mãe-má), seria no sentido de transição passagem de posição esquizo paranóide para  a depressiva. A oferta do escudo polido a Perseu, pode simbolizar a disponibilidade da função de reverie-mãe representada por Palas.  Atena e através do  seu escudo, Perseu pode perceber  dentro de si a imagem filtrada de Medusa, desintoxicada de persecutoriedade, deixando de ser mãe castradora e não ter mas o medos das serpentes na cabeça ( símbolos fálicos); enfim, levar-se das perseguições e transformá-las em imagens paternas protetoras.

Orfeu que, perdendo Eurídice (esta, fugindo do sedutor Aristeu, fora picada por uma cobra e veio a falecer; simbolicamente o medo de prevaricar), tornou-se misantropo e fixado na figura de Eurídice. Prosérpina prometeu que se ele não olhasse para trás, Eurídice reviveria e iria juntar-se a ele, todavia, o seu tanatismo não permitiu ser feliz: juntou-se a sua amada e voltou a cabeça para trás... Orfeu não tolerou o abandono, que o levou a dissociar-se da sua parte inconsciente.

O abandono se dá, também, por parte dos pais (deuses), pois Prometeu (acorrentado e seu fígado comido pela águia) adquiriu o fogo, símbolo do conhecimento, enfrentando Júpiter e por isso fora castigado. Entretanto, pôde salvar-se através de Hércules, que lhe deu a bile da Hidra de Lerna (antídoto fálico das inúmeras cabeças), e que nos permitiu utilizar este modelo, para o homossexualismo feminino. Não é com o veneno de cobra, que se faz o soro antiofídico? Do mesmo modo, a mulher pode utilizar-se das interpretações do analista, para fazer desaparecer a inveja do falo!(19). Uma das representantes do sentimento filicida em psicossomática seria o mito de Medeia. Jasão educado pelo centauro Quirão, para conseguir o trono tinha que conquistar o Tosão de Ouro (inocência) para isso teve que enfrentar 2 touros ligados a homens armados, dominou-os ainda enfrentou o dragão que fora enebriado por Medeia, sua mulher. Esta por ciúme de ter sido abandonada, matou os filhos e degolou sua amante; desde aí, Jasão tomou a vida errante.

Outro sentimento filicida, vai encontrar em Saturno que devorara os filhos e em Abrão que recebera ordem de Deus por matar Isaac, é o chamado mito de Akedah (Miller Paiva 1991).Para nós seria uma fantasia filicida inconsciente que levaria os pais a educarem mal  (sem reverie) os filhos e até maltratá-los. Desta educação surge o sentimento de himeneufobia ( medo do casamento) pois poderia ter filhos com essas fantasias parricidas e sofrer a Pena de Talião. O mito “Medo das baratas” (zoofobia) nas mulheres é mais freqüente que no homem. Se observarmos os hormônios cortisol, epinefrina, nor-epinefrina antes e depois de jogar  uma barata em uma fóbica, não haverá aumento da epinefrina  produtora da ansiedade, pois ela, a adrenalina, encontra-se aumentada na lebre, antílope etc, mas nos felinos,  leão e tigre, o aumento se dá pela nor-epinefrina, substância esta produtora do comportamento agressivo. Na mulher com fobia pela barata há aumento da nor- epinefrina e não epinefrina  (esperava-se este aumento por sentir medo intenso). Isso porque se a mãe bate na filha e esta fica com raiva, tem fantasias hostis à mãe, e, nesse exato momento, mata-se uma barata, a filha superpõe a mãe ao animal causando portanto, culpa intensa.

Outro exemplo de sentimento filicida estaria no Mito da criança assada. A mãe recebe ao voltar do cinema um bilhete da babá: “há uma surpresa no forno”. A mãe encontra o bebezinho assado. É dessas fantasias que chocam e que se espalha como verdade!  Tudo isto é falso.O mito de Ulisses: muitos homens são seduzidos por jovens e belas mulheres, porém aquele que tem caráter e sente-se feliz isto é,  por ter adquirido pelos bons exemplos dos pais (absorveram o “copy stile” deles) jamais  prevarica, embora não deixem de ter vontade de “dormir com a Miss Brazil”. O canto das sereias não funcionou pois Ulisses era sagaz, corajoso, ardiloso mas era modesto e humilde embora tenha fingido ter crise de loucura; amarrado no mastro resistiu a sedução das ninfas, demonstrando intensa fidelidade à Penélope e com a qual imitou Erato que celebrava as loucuras do himeneu e a felicidade de amar.

O mito da Esterilidade é combatido pelo Xamã, na África. O casal estéril faz um buraco na terra, penetra nela, ao entrar, come algo fornecido pelo xamã e ao sair do outro lado do buraco, ingere antes alimento e vão morar em uma casa na qual existe uma franga. Se esta botar ovo, haverá gestação.

O mito de Psique vamos encontrá-lo na falta de orgasmo vaginal.Psique fora enviada pelo  oráculo às núpcias da morte. À noite apareceu  na escuridão com marido invisível, o monstro, que não podia ser visto; é o não enxergar a fantasia de morte sobre o homem para chegar ao orgasmo vaginal. Os irmãos de Psique convenceram a irmã de vê-lo.

Ela foi avisada que era um réptil de tortuosos anéis, pescoço estufado, de baba sanguinolenta, pronto a devorá-la, mas suas irmãs Induziram-na a matá-lo e, ao fazê-lo iluminou seu perfil, observando, então, a beleza sem igual. Eros não mais tentou o suicídio. Psique, aceitou o convite do Deus Pai e orou para o cúpido e reconciliou a com Afrodite.Esta indus Psique ao sair dessa fase  mais primitiva da humanidade, a executar 4 tarefas:  sair da hybris (perder orgulho e inveja) ter humildade, paciência,além de adquirir capacidade de elevação do espírito e, finalmente, trazer do inferno ( a cotábase de morte simbólica) a caixa com a formosura de Perséfone para matar dentro dela a parte que a impedia de amar.

A nosso ver é acabar com a culpa da inveja do pênis, pois a fantasia do coito sem orgasmo ou somente pela masturbação levaria ao pavor de possuir fantasias de orgasmo e morte; quando tivesse orgasmo iria destruir o pênis, e matar o homem, por causa da fantasia da “vagina dentata”.

O mito do homem e da mulher terem medo da relação genital é muito mais freqüente do que se pensa, haja visto o mito da Medusa (Gorgona) isto é: da fantasia inconsciente de que toda a mulher representar, no inconsciente, a mãe má.

É o Rang  do oriente, os quadros de Dorothea Tanning entitulado “Noite Nupcial”, os de Salvador Dali “Galacidoribonucléico” “Canibalismo do outono”e muitos outros.
O mito de Icaro cujo maior desejo é voar como os pássaros; para tal desiderato temos a lenda do tapete mágico do folclore muçulmano. Dédalo fixou asas de cera nos ombros de seu filho, mas ao aproximar do sol fundiu a cera o jovem não estava suficientemente preparado devido imaturidade do pai.

A maioria dos mitos tem um desfecho desastrado porque seria sacrilégio ou tabu descobrir os segredos profundos da natureza. Esta descoberta causadora da culpa tal qual Santos Dumont suicidou-se por saber que a sua invenção estava matando os jovens paulistas. Contudo, um dos mais antigos mitos é o de Golem, relacionado à criação da vida. Este mito é um dos mais ambicionados desejos da humanidade, foi pois o poder de voar daí estaria do tapete mágico dos  muçulmanos. No mito de Pigmaleão, rei de Chipre , o qual esculpiu a estatua de uma mulher em marfim, porém apaixonou-se por ela. Afrodite, deusa do amor, deu vida à estatua como um favor, do qual emerge o conceito de criação da vida.Todavia, a nosso ver, seria uma forma de desvio da sexualidade, a mulher seria sentida pelas fantasias inconscientes, como mãe má  fálica e castradora, homem preferiria uma mulher que não fosse destruí-lo como sói ocorrer com os pedofílicos, que preferem a relação genital com crianças, pois estas não seriam agressivas ou poderia dominá-las.

A criação artesanal da ovelha Doli, implante do gene, teria o mesmo significado- mito de Golem.

Mário de Andrade na sua prosa de ficção “Macunaíma”, servindo-se da lenda indígena, misturada a elementos da própria criação, procurou representar a alma mesma do brasileiro ainda incerto no seu caráter.

Outro mito brasileiro, o “Saci Sererê” ou “Pererê”, entidade fantástica, negrinho de uma só perna que, segundo a crença popular, persegue os viajantes ou lhes arma ciladas no caminho.

Tanto os mitos “Macunaíma” como o “Saci Pererê” causaram muito medo nas crianças e no caboclo do sertão, pois exacerbavam os seus sentimentos de culpa decorrente das fantasias agressivas e o pavor de serem punidos.

No Amazonas certos mitos indígenas: Kuait roubou o pássaro-rei-sol para dar luz à escuridão - similar ao mito de Prometeu, roubou o fogo, conhecimento de Júpiter.

Mavutsinim, primeiro homem no Xingu e Araiatura que descobriu o espírito depois da morte (índios Yanomani), mitos estes aproveitados pelos shamans para, sob o efeito alucinogênico, impressionar os crentes. (22).

12 - CAUSAS DO SENTIMENTO DE ABANDONO

Essa condição do eterno abandono é decorrente da falta de amor, reverie, dedicação e afeição da mãe para com o filho. Quanto mais distante da mãe ficar a criança (até 3 anos), maior probabilidade terá de produzir fantasias agressivas ou mesmo assassinas à figura da mãe, principalmente quando nasce com ego frágil ou esburacado (Ammon) (1), que irá produzir um intenso sentimento de culpa.

No mito do eterno abandono, o “holding”, segundo Winnicott (55), deve ser utilizado, propiciando ao analisando, condições exteriores favoráveis, sob a forma de um equivalente aos cuidados maternos primários, permitindo assim que o desejo de crescer se restabeleça. A técnica, utilizando a análise na regressão, tem sido útil principalmente para que haja reprogressão (31,a). A  personalidade ocnófila, caracteriza-se pela necessidade do analisando tocar, ter contato pessoal ou corporal com o analista, pelo medo de ser deixado ou abandonado. O terapeuta não deve rejeitar esse tipo de analisando, utilizando-se de expressões não cordiais, e sim procurar ficar em certa distância formal. Nesse período, o analista deve acompanhar a regressão e interpretá-la discretamente, e restabelecer uma aliança de trabalho que permita analisar a reação do paciente, diante da separação (fim de semana, férias, etc.). Constituí momento útil e privilegiado para interpretar a situação transferencial. Todavia, utilizar-se da voz melódica e segundo Hulaik, (1985) da entonação, modulação, ênfase, pausas e os silêncios que abrem um outro canal de comunicação de extrema importância, não se esquecendo da atitude firme que precisa ter o terapeuta.

É como o paciente com doença do Neutro (31,d), quando diz: “não consigo viver sozinho”, mas complementa: “não consigo me doar”.

O ódio, enquanto relação com o objeto, é mais antigo que o amor, e provém do repúdio originário que o ego narcíso opõe ao mundo externo. É somente com o estabelecimento da organização genital que o amor se torna oposto ao ódio porque, em geral, o amor e ódio são irmãos; o oposto ao amor é a indiferença, daí o intenso sofrimento do paciente com doença do Neutro (31,d). Muitas vezes, romper com o analista, é conservá-lo, e isso não é a mesma coisa que separar-se dele, fato que sói ocorrer, na reação terapêutica negativa. Uma das mais graves angústias de abandono é decorrente do sentimento filicida. Como já descrevemos (31,e,f), o indivíduo que foi gerado sem amor pode tornar-se insatisfeito na vida, com neurose de sucesso, querelante, repudiando o formar uma família. A redução do número de sessões, nesses casos, exacerbaria o mito do eterno abandono e a maior freqüência de repetição compulsiva. A solidão revigora e o sentimento de solidão  pode causar depressão e doença do Neutro (31,d).

13 - NEUROSE OBSESSIVA E O ABANDONO

Na neurose obsessiva compulsiva, a repetição dos atos é necessária, embora o indivíduo conheça o absurdo de suas intenções. É uma necessidade premente: o bater 3 vezes na madeira para tirar o azar, lavar as mãos inúmeras vezes, não passar em baixo de uma escada, não utilizar-se da cor marrom, colocar o pé direito sempre na frente, não conseguir ficar sozinho na própria casa, etc. Todo esse cerimonial é para “amenizar a ira dos deuses”, evitar um mal, devido às fantasias nos períodos de molde (0 a 7 anos de idade), que geraram culpa e que ficaram no inconsciente.

O inconsciente coletivo nos é mostrado através das gerações. O estudo do cérebro primitivo reptiliano, vem corroborar para a explicação de certas atitudes obsessivas, refletindo o resquício dessa parte primitiva do cérebro. Então, a repetição compulsiva, encontrada durante a terapia analítica, seria conseqüente do exagero da função do cérebro reptiliano. É por isso que o psicótico teria mais dificuldade de submeter-se à psicanálise. 

Mesmo os analistas freudianos tinham pouco entusiasmo de tratar uma psicose, devido às dificuldades transferenciais, que a escola lacaniana denominou de foraclusão.

14 - O MITO DO ETERNO ABANDONO E O CÉREBRO REPTILIANO

(O réptil que sobrevive nos humanos- A força irracional do nosso comportamento)O cérebro reptiliano (a parte mais antiga do cérebro - 200 milhões de anos) é a parte central do tronco cerebral e compreende a maior parte do sistema reticular, mesencéfalo e núcleos da base.

O cérebro paleomamífero, evolução do reptiliano, se distingue por um nítido crescimento e diferenciação de um córtex primitivo, que é igual ao futuro sistema límbico do homem. 

Finalmente, mais tarde, na evolução, aparece um tipo de córtex altamente diferenciado, aqui chamado de neomamífero, cérebro este muito desenvolvido nos primatas, atingindo porém uma alta especialização no homem, permitindo a leitura, escrita, cálculo aritmético, fantasias e abstrações, devido, principalmente ao desenvolvimento do lobo pré-frontal (31,g,i).  O predomínio da agressividade primitiva, vamos encontrá-la nas funções do núcleo amidalóide do hipocampo e do hipotálamo posterior - é o homo Brutus, constituindo a síndrome do núcleo amidalóide (impulsivo agressivo) (23,k).  As fantasias inconscientes, produzidas no córtex cerebral e em conexão com o tronco cerebral, constituiriam o homo mythicus (onde há predomínio da fantasia inconsciente). 

Finalmente, devido ao aumento das conexões dendríticas, do sistema reticular, da parte bioquímica e do desenvolvimento especial do cérebro pré-frontal, houve a formação do superego (parte censora por introjeção das figuras paternas e autoridades). Essa parte, formando portanto o homo sapiens, seria responsável pelo sentimento de culpa, inerente ao homem, bem como à tendência paranóide do homem. 

Em linguagem corrente, podemos comparar os cérebros reptiliano, paleomamífero e neomamífero, aos ordenadores biológicos, tendo cada um suas funções subjetivas, cognitivas, cronométricas, memorizadoras, motoras e capazes da elaboração de fantasias inconscientes.

Observações efetuadas por etólogos nos levam a concluir que os programas do cérebro reptiliano têm estereotipias de comportamento, segundo a aprendizagem e lembranças ancestrais. Ele parece ter papel básico nas funções determinadas instintivamente (id, cérebro visceral), tais como nos animais, a escolha do território, de abrigo de caça, de acasalamento, de reprodução, traços mnésicos, formação de hierarquias sociais, escolha do chefe, etc isto é, predomínio instintivo. 

O cérebro reptiliano parece ser escravo dos precedentes: se, por exemplo, o animal encontra um caminho seguro para voltar para casa, ele terá tendência a tomar este caminho seguro, mesmo que precise fazer vários desvios. Seria interessante saber em que medida este resquício reptiliano, no cérebro humano, determina suas ligações ao “já feito”, nos rituais cerimoniais, nas convicções religiosas, na política, nas ações legais, etc. A obediência, ao precedente, é o primeiro passo em direção ao comportamento compulsivo-obsessivo, o que ilustra, por exemplo, o fato de as tartarugas terem o hábito de voltar sempre, ao mesmo lugar, para botar os ovos, a maneira do salmão procriar, etc.; é instintivo.

A formação, durante a evolução de um córtex de dimensões consideráveis entre os mamíferos inferiores, pode ser considerada como a tentativa que a natureza faz de dotar o cérebro reptiliano de uma “calota pensante”, e libertar os animais, e comportamentos estereotipados inadequados. É como se o cérebro reptiliano estivesse sob a dependência de um superego ancestral. Haveria uma dependência neurótica, pois, de fato, não se acha equipado para se adaptar a situações novas.

Esse fenômeno não parece ter acontecido com o cérebro humano, permitindo que o homem conseguisse escapulir, apesar de estar sob a força de lei biológica implacável, como sói ocorrer para os outros animais. Em situação ambiental nova, o animal tem três alternativas: adaptar-se, migrar ou morrer. Já o homem, com capacidade de pensar, tem condições de modificar o ambiente. 

O sentimento paranóide do homem  seria conseqüente de um estado desagradável de medo, ligado a algo não claramente identificado, similar à culpa ancestral que, para nós, seria a culpa inconsciente por ter tido fantasias hostis, aos pais, no período de molde.

Os indivíduos, com neurose obsessiva compulsiva, parecem refletir uma fragilidade do cérebro reptiliano, pois a tendência à repetição é contínua. Eles não “escutam” as interpretações do terapeuta.

Por outro lado, segundo Patterson (28), o pensamento do esquizofrênico é diferente do pensamento do indivíduo normal (quando obtido pela tomografia computadorizada “high-speed digital eletronic”), evidenciando que hormônios alucinogênicos podem causar alterações estruturais funcionais nos neurônios, o que parece confirmar a fragilidade do ego - perturbação primária.

Na neurose obsessiva, a compulsão parece ser um ato automático necessário e quase inconsciente (estrutura primária devido à defesa do sistema nervoso, no cérebro reptiliano), pela necessidade de defender-se da culpa inconsciente; todavia, “separar-se”, em psicanálise, pode ter dois sentidos: a simples separação, mas com as conseqüentes reações afetivas e, segundo, ser sentida tal como uma perda da parte do ego, como sói acontecer nas ausências reais do terapeuta (31,h).

Na doença do Neutro (31,d),o paciente necessita repetir a sensação de abandono, e para tal, utiliza-se da agressão ao analista - a necessidade de ser novamente abandonado.

O mito do eterno abandono (31,h) somente se torna real, na medida em que repita um arquétipo, assim a realidade, só é atingida pela repetição.

Pensamos, portanto, que a repetição compulsiva (similar ao impulso do obsessivo ou do toxicômano) é primária, em conseqüência da estrutura patológica do sistema nervoso (insegurança ontológica ou ego frágil, conseqüência da excitabilidade do cérebro reptiliano), devido a fator genético e exacerbado nos períodos de molde, como sói ocorrer na foraclusão Lacaniana; daí a dificuldade de se fazer psicanálise nas psicoses. 

O depressivo ou o doente do neutro, ao contrário, procura objeto para piorar a sua disforia. No pânico, por estar no "buraco negro", o paciente fica inibido. 

No ataque de agressão, o indivíduo tem parco controle de seu impulso (realizado pelo núcleo amidalóide do hipocampo), então, ao tornar-se impulsivo, está querendo regular o seu estado de impotência e vulnerabilidade. A sua farmacologia interna (serotonina, endorfina, nor-epinefrina, etc.) é estimulada para reagir e enfrentar a fraqueza do ego.

15 - O MEDO DO ETERNO RETORNO E O COMPLEXO DE CASTRAÇÃO

Quem primeiro curou uma impotência, por medo de castração do pai, foi o médico Melampus, antecessor de Esculápio. Nos quadros de Geronimus Bosch, “extirpação da pedra da loucura da região frontal do cérebro, que hoje sabemos que é a parte do cérebro que mais controla a imaginação, pensamentos e idéias (26,b). Temos observado, muitas vezes, que o homem com complexo de castração, ao ter coito com uma mulher, sente a presença do ausente (pai castigador), levando-o à impotência. Por que o homem tem tendência a procurar as “mulheres fatais” (Lilith, Mata-Hari, etc.) Seria pelo fenômeno de repetirem com elas, os mesmos conflitos, agressões e prazeres que tiveram com a própria mãe: amor e ódio?

16 - ESTUDO COMPARATIVO DOS MITOS

Prometeu é um descendente tardio dos Titans; representa uma forma mais evoluída de oposição ao espírito; não mais a revolta da terra-mãe, da matéria (discórdia inicial), mas da matéria animada, da terra habitada pôr seres vivos e animados dos desejos, a revolta do desejo terrestre. Prometeu significa: O pensamento previdente.

No “Gêneses”, o “Espírito-criador”está simbolizado pela voz que proíbe a Adão, símbolo da humanidade que nasce, comer o fruto da árvore do conhecimento ( símbolo da intelectualização).Zeus cria o homem enquanto ser espiritual, capaz de escolha justa, animado do impulso evolutivo, do desejo essencial; o Titan cria o homem enquanto ser material, capaz de escolha falsa, preso à terra-mãe, à matéria.

O emprego do fogo (Prometeu roubou-o de Júpiter, símbolo do conhecimento)marca um passo decisivo, senão a etapa mais importante da intelectualização progressiva que, cada vez mais, se afastará da condição animal esse ser tornado consciente, capaz de libertar-se da condição imediata da natureza ambiente. No mito de Éden, o desafio, que consiste em comer a maçã proibida  da arvore do conhecimento, é castigado com a expulsão do paraíso terrestre. No mito de Édipo a curiosidade do homem acerca de si mesmo está representada pelo enigma da Esfinge; o desafio consiste na maneira obstinada e arrogante com que Édipo leva à cabo sua investigação, apesar das advertências de Tirésias.

O castigo se associa a cegueira e desterro. No mito de Babel, a curiosidade de alcançar o conhecimento (chegar ao céu-Deus) através da construção desafiadora e de uma torre e de uma cidade, é castigada com a confusão de línguas e com a destruição da capacidade de comunicação. Significativamente, a curiosidade, nos três mitos, tem a qualidade de ser um pecado. Os modelos para o conhecimento mental estão representados pela arvore do conhecimento, o enigma da Esfinge e a torre de Babel.

A configuração subjacente a esses mitos em relação ao saber encontra sua expressão no indivíduo em cada etapa do crescimento e aquisição de conhecimento. A curiosidade estimulada busca o conhecimento; a intolerância ao surgimento da dor e o temor ao desconhecimento estimulam ações tendentes a evadir, anular ou oferecer resistência à busca e á curiosidade.

A resistência se opõem ao descobrimento de novas verdades. Os mitos dão uma versão narrativa do problema, no qual os diferentes personagens em sua inter-relação desenvolvem o drama do homem e do grupo em sua busca da verdade, sobretudo quando a curiosidade e essa busca se referem a conhecimentos de si mesmo. A verdade é essencial para o crescimento mental; sem verdade, o aparelho psíquico não se desenvolve, morre de inanição. Uma mãe com reverie intui a verdade dos sentimentos de seu bebê, e os devolve a ele em forma tolerável.

O mito: é portanto, a narração fantástica de deuses e heróis, que pertence ao patrimônio cultural de um povo. Fundado sobre uma tradição oral ou escrita, tem geralmente um estreito vínculo com a religião, formando a razão de crenças, tabus e ritos. Freqüentemente constitui um suporte (base) do sistema social e uma chave explicativa de fenômenos da natureza. Ele traz vestígios das fases primitivas da humanidade – são os arquétipos. O mito articula pólos em uma análise e segundo Bion ( em conferência em São Paulo) disse a um paciente no final da sessão “você não se lembra do mito de Prometeu?) O paciente acabou tendo um insight”. O herói Gilgamesh nos faz lembrar dos trabalhos de Bion (1990).(4)

Ä ciência avança de modo a verificar idéias, imagens do mundo. A ciência provém do mito. Vê-se isso muito nitidamente nos primitivos cientistas, designadamente nos primitivos filósofos gregos, nos filósofos pré-socráticos que eram ainda muito influenciados pela formação dos mitos. As interrogações que põem são, porém, inteiramente racionais. Pôr interrogações racionais entendo interrogações orientadas para a verdade.”

É interessante levar em conta as inter-relações entre “mito, sonhos e pensamentos inconscientes”, a ponto de os mesmos serem colocados pôr Bion (1994) na mesma categoria C do eixo genético da Grade. Espera-se que a análise do psicanalista tenha permitido ao analisando realização de boa parte de seus “mitos pessoais”. Assim sendo, ressalta-se que a função alfa estará a serviço da fabricação de “mitos”, agora na experiência com o analisando, e que esses “sonhos”devam ser definidos e comunicáveis, devendo ainda ter algumas qualidades de senso comum bem como também de  não-senso comum.(Cogitations 186).

Em sua introdução à edição italiana de “Transmissione della Vita Psichica tra Generazioni”, “Antonio Ferro e Anna Meregnani”consideram que um trabalho autenticamente psicanalítico vem acompanhado da capacidade de ampliar o campo que investiga. “A menos que psicanálise desenvolva uma técnica análoga à Arqueologia, nós não conseguiremos conhecer o que acontecia nos corações e nas mentes das pessoas que pertenciam à corte do rei Uruk, cidade de Abrão, quando elas caminharam para dentro da Cova da Morte, tomaram sua porção de hashishe e foram enterradas vivas”. Similar ao suicídio coletivo de 900 seguidores do líder na Guiana. Surto psicótico de P.M.D tal como no mito egípcio da Tumba de Osíris. (Naves, 2001) (36)

Penso que “o preço da liberdade ou a verdadeira psicanálise deva continuar a ser, a eterna vigilância a fim de preservarmos a luta pela vitalidade da Psicodinâmica contra os riscos da atitude de Palínuro, que adormeceu na boléia de seu barco (Virgílio Eneida livro VI).

Os anorexias e os portadores de doença do Neutro terão: sentimentos de distanciamento físico do corpo materno (p.ex. “não me lembro de minha mãe ter me posto no colo”); histórias de mães super-protetoras, mas pouco afetuosas; história de terem sido gerados, indesejadamente, ou pôr acidente, por sentimento filicida; daí sentirem o leite-seio-tóxicos. Qualquer alimento (mãe má) é tóxico, seria numa forma de suicídio lento.

Hulak e Ledermam (18) sugerem dois tipos de self, um falso self imposto, e que se diferenciam do conceito genérico de falso self descrito pôr Winnicott.(55). O falso self imposto é a sua tendência para somatizações severas buscando êxito letal como forma de, em suas fantasias, renascerem com o direito a um verdadeiro Self, daí a compreensão do Mito de Fênix (retornar das cinzas)  pois não se trata de morte física e sim renascer com novo psiquismo. É o que nós denominamos de fetalização, voltar ao útero para engulir as águas mães nutriciais para tornar-se forte; propõem ainda que, nestes casos, os mecanismos de auto-regularização mobilizariam as ordens tanáticas do organismo.

Chamam estes autores de mecanismo de Regênesis.Sugerem a releitura do mito de Narciso como complementação do mito da Fênix e uma modificação técnica na abordagem destes casos.

O mito de Psique é freqüente na clínica grupanalítica pois os homens brasileiros (constatamos o mesmo em Nova York pôr ocasião do Congresso Psicanalítico) são muito machistas, principalmente na vida conjugal.Não chegam a ser como os muçulmanos que fazem a clitorectomia aos 13 anos pôr ciúme patológico, mas levam a esposa a ser submissa e revoltada e daí a freqüência da pseudo  frigidez e orgasmo somente clitorídeo (agressividade inconsciente à figura masculina) Psiquê desobedecendo as irmãs invejosas acende a luz e encontra um belo homem seu marido Eros. O medo de se conhecer leva a maior parte dos homens terem medo de submeter se a grupanálise.

A ligação entre o mito individual e coletivo, vamos encontrá-la na Neurose Obsessiva Compulsiva que pode atingir toda uma cultura. Para nós, a obsessão é uma doença psicossomática pôr erro de educação (pais inconscientemente odiados) e com má estrutura do cérebro reptilineo, principalmente do núcleo cerúleos. Mas se jogarmos um pau ou boneca o cão trará de volta, inúmeras vezes; todavia se ele receber fluoxetina não ocorrerá a repetição, pois esta substância nutriria os neurônios, fazendo desaparecer a necessidade de repetição; fato similar ocorre na reza compulsiva pois a sua repetição sem senti-la, nada acontecerá, é a chamada falsa fé; mitos camuflados como o marxismo que  pretende salvam o mundo eliminando a desigualdade e os sofrimentos sociais, são muito bonitos na teoria e um fracasso na prática isso porque os indivíduos esquecem que todos nós possuímos o instinto de morte, uns mais (não tem estímulo nem para o trabalho) e outros menos, que somente sabem protestar contra tudo ou do contra! Quanto ao mito camuflado do carnaval, Rascowski nos dizia que o Brasileiro é um povo com temperamento ciclotímico, um lado, maníaco representado pela agitação psico-motora no carnaval, e, pôr outro lado, depressivo, pois toca, “chorinho”. Um paciente meu, Juíz de  Direito: sóbrio, porém no campo de futebol cujo time representaria o herói mítico, jamais poderia perder devido em suas fantasias inconscientes de onipotência para supercompensar insegurança ontológica, isto é ego frágil ou esburacado.

Barthes cita: “o mito é um sistema semiológico”. Muitos pacientes podem conseguir o “insight”de seu conflito através do conhecimento mitológico pois este liga as nossas profundezas ocultas com a mente consciente, ele nos faz perceber o mundo dotado de sentido, acreditar nas estabilidades nos valores humanos e, finalmente, perceber o mundo como algo contínuo (Kolakowski, 1990). Além disso o mito transcendente (Ferreira da Silva, 1988), é a  “poiéses” divina, invasão da consciência pôr imagens divinas.
A física quântica nos auxilia na compreensão da relação entre o espírito e a matéria e certas somatizações (Miller de Paiva,2000).

Tentamos explicar através da física neognóstica os fenômenos telepáticos, o próprio câncer e inclusive a possível existência da alma imortal, pois vivemos eternamente através dos elétrons, prótons e eons, em constante atividade.

A dança no tempo comum pode romper-se, instalando a tempolaridade mítica. A nossa experiência clínica na grupanálise através da peragração (dança que se aprende), para, com movimentos harmônicos, compensar a desarmonia dos sentimentos internos; pois dançar em público, teria o significado de expor os seus desejos incestuosos inconscientes pôr isso jamais se exibem.

17 - A FORÇA DO INCONSCIENTE É INCOMENSURÁVEL

O filme “Titanic” mostra a onipotência arrogante (hybris) dos seres humanos principalmente os construtores navais, similar a maioria dos executivos, indivíduos repletos de narcisismo e orgulho. A psicanálise mostra também que  apesar dos desníveis sociais iguais nos divans ou em grupos, no fundo, os indivíduos são todos iguais somente se diferenciando pela educação do berço, gerador de bons sentimentos, caráter sólido e comportamento equilibrado. O estudo do filme Titanic nos fez reunir numa série de mitos da impossibilidade de casar, a começar pelo mito do Éden, o casal expulso do Paraíso pois terem sido desobedientes (relação sexual precoce).

Nossa observação psicanalítica esclarece que as doutrinas religiosas julgaram mal a sexualidade. Pensamos que o principal fator não seria a relação sexual a causadora da expulsão de Adão e Eva do Éden e sim a inveja (ódio intenso) do pai juntos com a mãe, haja vista que toda a criança vendo o pai deitado com a mãe na cama procura acomodar-se no meio deles. Se os pais vivem bem, sem derriça, a inveja desaparece ou se atenua; todavia se os pais brigam ou tenham muita desavença, aumentaria muito o seu sentimento de culpa produzido pela inveja, pois o ódio é inato.

No filme " Titanic", o amor entre os casais é destruído, similar o Adão e Eva e os filmes “Romeu e Julieta” “Love Story” “Heloisa e Abelardo” “Casablanca” “Feitiço de Áquila´ “Akedah”etc., parecendo uma neurose de  sucesso, o que nos faz lembrar a proibição do amor completo (orgástico) decorrente ainda do pecado original ao lado da proibição do prazer pôr inconsciente sentimento de culpa. Há muitos filmes e romances que a mulher não consegue ter orgasmo pôr falta de amor ou pôr culpa do cônjuge, principalmente quanto este é bruto, indiferente, negando o romantismo (classificando este sentimento de sandice), machista, levando-a prevaricar como aconteceu nos filmes e romances. ” Madame Bovary”, de Gustavo Flaubert; “Dona flor e seus dois  maridos”, de J.Amado e outros. Pôr outro lado, a agressividade da mulher para com o homem (inveja do pênis) é clara no filme japonês “Império dos Sentidos”cujo final a amante corta os órgãos genitais do homem e sai exibindo-o na rua.

No filme “A bela da tarde”evidencia-se como um trauma sexual na infância (relação  com o carvoeiro) pode acarretar desvios orgásticos, misturando o prazer com sofrimento e o prazer sexual com algo sujo, inclusive utilizando o “wasamba”.

No filme “Silêncio dos inocentes”acentua-se o transexualismo ( o assassino utiliza-se da pele das mulheres para se vestir, identificando-se com o sexo feminino) forma de psicose monossintomática.

O filme “Central do Brasil”aborda a busca do pai que abandonara a família. A carta escrita pôr ele, reascende a esperança de encontrá-lo, também pode significar investimento na vida, fé, esperança ou lamento pelo amor perdido, mas para nós é a necessidade imperiosa de presença do pai, para sua identificação introjetiva, (“colocar dentro”o pai idealizado, forte, protetor e “pai amigo), é o nome do Pai ou da Lei, descrito pôr Lacan,(27) de importância fundamental na profilaxia do homossexualismo, travestismo ou transexualismo.

A criança necessita primeiro identificar-se como o falo da mãe (falo este que seria do pai ou mesmo do avô) para depois ter coragem de introjetar o falo do pai. O pai deste filme torna-se amado e, ao mesmo tempo, odiado, mas entre os irmãos há um pacto de não agirem contra o pai, mas sobrevivam através do instinto de vida, característica da força libídica de reparação.

Nesta mesma situação temos o filme de Ingmar Bergmann “Gritos e  Sussurros” que mostra como a falta de afeto do pai e da mãe acarreta a incapacidade de amar (nas três irmãs), uma delas sofrendo câncer e tendo homossexualidade (substituindo mãe pela amiga pois desde criança tinha medo de se aproximar de sua mãe seca e distante).
Sua irmã Karin evidencia sua aversão à figura masculina colocando na vagina cacos de vidro (do copo de vinho) ao ter coito com o esposo (verdadeira vagina dentata). O filme termina mas não enfoca principal personagem, causadora principal de toda a tragédia- o pai, o “grande ausente”! que não conseguiu dar afeto, segurança, reverie e assim permitiu que os filhos não tenham capacidade para um amor pleno. O mesmo fato ocorreu no filme “O exorcista”, ausência do pai favorece todas as manifestações parapsicológicas.

No filme deI. Bergmann, “Morangos Silvestres”, a indiferença  afetiva do pai acarretou separação da esposa e dos filhos embora muito querido  e conceituado pelos seus clientes. Este é um exemplo típico de sentimento medo de amar pois não sabe se vai dar amor ou destruição; com seus clientes era um gentleman agradável, recebendo até um prêmio da Academia de Medicina.

O “mito da caverna de Platão”(livro VII da “República”- Platão, 1972) cuja visão das pessoas depende da posição da observação, como ocorre com o analista, já conhecedor dos conflitos inconscientes – vê mais que os outros! “Continua Platão no seu relato mostrando que este que viu a realidade é o filosofo que tem o dever de ensinar os outros, embora esta empreitada seja difícil”. O mesmo fato ocorre com o Terapeuta que deve mostrar os conflitos inconscientes aos pacientes, sem confundi-los, mas é tarefa demorada e muito difícil, também. O problema do “duplo e do estranho”fomos encontrar em uma paciente engenheira e diretora de firma multinacional que possuía 7 personalidades, necessitava de cada uma delas de acordo com a sua necessidade.Uma vez descoberta e sentida as causas de seus conflitos, acabaram as inseguranças ontológicas, tornou-se uma só. 

O homossexualismo tardio no filme e romance “Morte em Veneza”, vem confirmar como essa doença é insegurança ontológica o que pode se manifestar principalmente na andropausa.

No filme “Sociedade dos poetas mortos” confirma, que já referi, como é prejudicial a intolerância paterna similar ao filme “Gente como a gente”, teimosia da mãe levando o filho ao suicídio.

No filme “Blow up”, a fantasia se mistura com a realidade de maneira clara pois o fotografo, pôr complexo de Édipo, vê na sua imaginação o casal (pai e mãe tendo relação sexual e o homem é assassinado) mas não consegue comprovar o assassinato para nenhum de seus conhecidos. Termina o filme com um jogador de tênis sem bola, confirmando a força da fantasia inconsciente. O conflito do filme “A rosa púrpura do Cairo”que a nosso ver mostra como a fantasia pode se confundir com a realidade muito mais vezes de que se pensa.

Eis um exemplo: um casal, marido em um grupo e esposa em outro grupo, porém juntando os dois precipitou uma confusão, cada um deles entendia de maneira diferente, embora o terapeuta estivesse presente. Trata-se de situação inconsciente, ele inconscientemente via na esposa a imagem dos próprios pais ou ela que sempre transmitiram confusão de sentimentos.É viver de fantasias, embora não percebam conscientemente, então os filhos interligam-se, sem perceber, do “copy style”da derriça dos pais.

“E o vento levou”nos mostra Scarlatt uma personalidade dinâmica e decisiva, porém psicótica, pois não conseguia amar de maneira sadia devido aos seus conflitos, estava sempre insatisfeita, “coquette”com os homens, significando forte agressividade a eles, julgava-os ( a seu “bel prazer”) e, finalmente, com sentimentos filicida.

No filme “Beleza Americana”seria o inventário mais clássico da canalhice atávica que origina a identidade americana como também referência a sua  frágil moral da família.

18 - MITOS E REPARAÇÃO 

Finalizo este comentário relatando o mito que aprendemos no Japão- o mito de Ajase; Ajase tomou, conhecimento que sua mãe estéril estava com medo de ser abandonada pelo esposo, resolve, então, engravidar; todavia o oráculo da montanha dissera que só teria gestação após a morte do ermitão.Ela mandou matar este ermitão. Nasceu Ajase mostrando-se desde cedo delinqüência desejando matar o pai, aprisionando-o em um calabouço sem alimentos. Sua mãe, untava-se de mel para nutri-lo.Nesse interim Ajase apanha doença terrível na pele.Sua mãe tratou-o com zelo. Acabou, sentindo, que era amado e não rejeitado, tornando-se um indivíduo normal.

O “mito do bebê assado”é mais freqüente do que se pensa. Um colega refere o fato (com ênfase) da empregada deixar um bilhete à patroa que voltava do cinema: “há uma surpresa no forno”. Era um filhinho que fora assado. Perguntei: você viu”. “Não”. Respondi: isso é uma fantasia coletiva e mostrei-lhe o livro que estava lendo: “Maternidade e sexo” de Maria Lange.

“A figura da mãe dissociada da mulher-sensual”é de maior importante na prática clínica. O machista diz: “esta moça é para casar, aquela é para ser usada”. Na pintura, Caravaggio, em “Amor sacro e profano” expressou-se muito bem. Na mitologia, Telus castrada  na sua sexualidade, mas concebia, fato este encontradiço com freqüência, assim como o homem, pode ter inveja da mulher grávida, sente enjôo e engordam juntos – é o “couvade”dos nossos indígenas. Além do mito de Ceres ou Deméter, mãe dedicada e sufocante, teríamos da fêmea devoradora como Lâmia Harpias, Empusa, Esfinge, Danaídes e as Sereias, arquitetadas pelo homem devido ao medo da castração. 

As pinturas de Salvador Dali em “Canibalismo de Outono”, etc., Dorothea Tanning em “Noite Nupcial “, Caravaggio em “Medusa”, retrataram estas fantasias inconscientes de maneira muito bela.

Lâmia= mãe feroz que arrancava o bebê das outras mães e devorava-os pôr inveja.

Harpias (eu arrebato) ou Harpazoo, velhas catinguentas e devoradoras ( do tipo abutre).

Empusa= monstro que aterrorizava.

Danaídes= 50 mulheres; 49 degolaram os maridos à pedido de seu pai Danas.

Narciso, (derivado de Narkissos cujo elemento Narke é igual a Torpor), era filho do Rio Cefiso o que banha e da ninfa Liriope (ninfas ligadas  à  água) que era psicótica, “suicidou-se”através da doença do Neutro com anorexia nervosa pôr enxergar sua imagem no lago, superposta a da mãe má. Ele jamais se casou. O mito de Narciso e Fênix se completam, aquele fora amaldicionado pela mãe antes do mau agouro de Tirésias: “aquele que viverá enquanto não se conhecesse”.

Deméter colocara no fogo Demofonte, filho adotivo, para purificá-lo através de amor puro, isto é, para neutralizar as fantasias agressivas inconscientes que  o bebê tem da mãe real que o abandonara. 

Não foi entendida, dizendo:”Oh! Homens ignorantes, insensatos, que não sabeis discernir o que há de bom ou de mal em vosso destino...”(Borges, 1989). Salientamos a importância da representatividade do marido como chefe da família, pois damos muito valor ao Nome da Lei ou Lei Paternal ( ambos os pais devem ser respeitados) para a formação sadia da personalidade; caso contrário, levará às psicoses de 3a. geração como descrevi no nosso livro “Psychosomatic Psychiatry” e em outros artigos. (23,i)
Este Nome da Lei , há 5.000 anos utilizados pelos nossos antepassados para a coesão da família, hoje está desprestigiado e com  isso aumenta o número de doenças mentais, psicossomáticas e toxicomanias.

Eis a nossa estatística do livro “Psychosomatic Psychiatry”: (23,i)

Quando não há respeito aos pais, família enfraquece ou adoece. O mesmo ocorre com os tipos de governo, se o presidente for fraco. Em Deméter-Demofonte, a mulher detentora do pênis, falta, portanto o Nome da Lei. Em Deméter-Perséfone, com pai ausente adota o filho pela necessidade projetiva, por necessidade de falo- o marido é sentido como castrado. A mãe que sente o vazio existencial e quer dar ao filho o amor que não recebeu da própria mãe, não será amor sadio e sim uma dialética do desejo que ela vai transmitir, isto é, mostrará sua posição inferior na escala zoológica, de não ser nada (nihilismo), um ser destituído da capacidade de amar. A nosso ver, a mulher, por ter inveja ou sentimento destrutivo à figura masculina e por ser a nossa sociedade falocêntrica, deveria transmitir ao filho o seu desejo de continuar através dele, a realização frustrada de sua masculinidade, mas, a inveja é de tal monta que só transmite a destruição do homem e do seu órgão masculino (daí tanto medo do transexual em ter um pênis).

19 - O ETERNO RETORNO E O “PORTANCE”

Importante é o aparecimento, do analisando, do “portance”(41),capacidade de suportar e de elaborar a angústia de separação. É o sentimento de auto-sustentação, que é internalizado progressivamente pelo analisando que pouco a pouco percebe que pode passar sem o analista e pode “voar com as próprias asas”. A criança que brinca com o carretel, aquela com medo de escuro, como o desaparecer e aparecer- é a identificação com o objeto perdido. Passa do temor de perder o objeto, para o temor de perder o amor... Para se ter “portance”, deve-se transformar o mito de Abrão: enxergar uma nova experiência religiosa, a fé em Deus ( fé no trabalho analítico), em vez de culpar-se pelo sentimento filicida. Outrossim, é transformar a interpretação da Santa Ceia clássica, quando Jesus disse:”Quando o galo cantar, um de vós irá me delatar”, cujas fisionomias dos apóstolos tornaram-se transtornadas. Ao contrário, segundo o quadro a de Salvador Dali- todos os apóstolos estão com as cabeças abaixadas, significando “todos seguiremos a sua doutrina”- é inverter o instinto de morte em instinto de vida!.

Quanto ao “eterno retorno”- a repetição periódica das existências anteriores- ele é um dos dogmas que podemos atribuir ao pitagorismo primitivo ( Dicearco, citado pôr Porfírio, Vila Pyth, 19). Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo; pôr isso o mundo durará seis eons, durante os quais, “o mal triunfará”sobre a terra. No sétimo milênio, o príncipe dos demônios será aprisionado e a  humanidade terá mil anos de repouso e de justiça total. Depois disso, o demônio libertar-se-á e retomará a guerra contra os justos; mas acabará pôr ser vencido, e no fim do oitavo milênio, o mundo será recriado para sempre.

Depois desse último combate, uma ekpyrosis consumirá todo o universo no fogo, o que irá permitir o nascimento de um novo mundo, justo, eterno e feliz, liberto das influências astrais e do domínio do tempo. 

Joaquim de Fiori divide a história do mundo em três grandes épocas, inspiradas e dominadas sucessivamentepor um elemento diferente da Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Na perspectiva do abade calabrês, cada uma dessas épocas revela, na história, uma nova dimensão da divindade e, pôr conseqüência, permite o aperfeiçoamento progressivo da humanidade, alcançando, na última fase- dominada pelo Espírito Santo- a liberdade espiritual absoluta. O mesmo fato se dá no término de um tratamento psicanalítico, no momento que o indivíduo forma a verdadeira trindade: pai, mãe e filho(a) sem o 4º elemento que é o Satanás ( a inveja), sente-se amadurecido e sem culpa, acabando o mito do eterno abandono e a repetição compulsiva.
Acreditem na fidelidade de Deus. Em verdade vos digo que alguém dirá a esta montanha. Ergue-te e lança-te ao mar... Se o homem não duvidar e acreditar que aquilo que dia se realizará, isso realizar-se-á.É pôr isso que vos digo: tudo o que pedistes rezando, ser-vos á concedido”( Marcos, XI, 22-24). A fé, neste contexto, como aliás em muitos outros, significa a emancipação absoluta de toda a espécie de leï” natural e, pôr conseguinte, a maior liberdade que o homem pode imaginar: a de poder participar, no próprio estatuto ontológico do  Universo. Ela é portanto, uma liberdade criadora pôr excelência. Isto é, ela constitui uma nova forma de colaboração do homem na criação, a primeira, mas também a única, que surgiu depois de ultrapassado o horizonte dos arquétipos e da repetição. (Eliade, 1969).
Para combatermos o mito do Eterno Abandono, precisam utilizar do Mito do eterno retorno. A terapêutica deverá, além  de um conhecimento técnico, dar muito Eros Terapêutico, afeto, carinho, reverie, principalmente segurança afetiva – aquilo que os seus pais não lhe deram, porém utilizando-se sempre da educação baseada em “mão de ferro em luva de pelica”. Só assim enfrentaremos os conflitos profundos do paciente: a insatisfação pela vida, a indiferença, doença do Neutro, a auto- destruição, neurose de sucesso, o caos, o sem  sentido a aspiração do nada, o nihilismo. Tudo isto se dá pelos conhecimentos de técnica analítica, reafirmando  amor amadurecido, compreensível, firme e constante do terapeuta, acabando assim a sensação do eterno abandono. O estudo do mito em psicossomática nos leva, portanto a valorizar os propósitos que o ser humano procura alcançar: o Amor, o Sucesso, e a Virtude Moral e, principalmente, conhecer as causas das culpas produzidas pelas fantasias inconscientes eliminá-las e assim, obter a verdadeira felicidade.

20 - COMENTÁRIOS FINAIS

Eros e a pulsão de morte formam juntas um sistema binário particular onde um não existe, e não pode existir, sem o outro.Juntos podem criar uma infinidade de formas de vida e de morte.

O conceito de tanatismo é baseado no predomínio do instinto de morte sobre o instinto de vida o que levaria o indivíduo as fantasias inconscientes e daí o  sentimento de culpa ou as introjeções do objeto tanático, sentido como bom, podendo ser  causador de doenças somáticas, psíquicas, distúrbios de comportamento e inclusive graves conflitos sociais, políticos, revoluções e guerras. Não podemos pois desconhecer os múltiplos disfarces do instinto de morte,principalmente o seu maquiavelismo sádico-traiçoeiro, e acima de tudo, devemos estudá-lo no sentido horizontal e transversal, para que, através dele, utilizando-o se possível, contorná-lo enfrentá-lo metalizá-lo e sobretudo sobrepujá-lo pelo instinto de vida.

Kierkegaard gostava de citar o romântico Lessing que dizia que, se Deus lhe oferecesse uma vida de absoluta plenitude e bem- estar na mão direita e uma vida de eternos trabalhos na esquerda, ele optaria, sem hesitação, pela dádiva da mão esquerda.

O risco causa ansiedade, mas não arriscar é perder o próprio ego E, no mais alto sentido, arriscar é, precisamente, estar cônscio do próprio ego.

Sem ter conhecido o sofrimento, um homem pode escrever um poema inteligente ou gracioso, mas não um grande poema.

Devemos tomar consciência da tragédia inerente à condição humana. Sua função comum é libertar-nos dos medos e frustrações da vida cotidiana.

“Unamuno chama de “ o horrendo espanto de sentir-se sem lágrimas e sem dor”.

Não são nos piores homens que mais sofrimento é sentido; pode ser considerado como um índice da profundidade do homem.

Se incapaz de sofrer a verter lágrimas é ser engolfado no terrível nada de inconsciência. Na peça de Camus, Calígula, a amante do personagem pergunta-lhe: então, essa liberdade aterradora é felicidade?

Sua resposta é a de um herói extencialista típico: “ Não tenha dúvida, Caesonia. Sem ela, eu seria um homem satisfeito. Graças a ela, conquistei a divina clarividência do solitário”.

Para tornarmo-nos infelizes, não precisamos de nada mais que nós mesmos.

Os planos dos reformadores sociais e amantes da humanidade fracassaram no passado e, portanto, fracassarão no futuro se não conhecerem o Homo Mythicus.

Pretendemos, ou melhor, precisamos fazer algo para acordar o Homo Mythicus, conhece-lo bem assim e exorcizar o Homo Brutus, para-se vislumbrar a paz e a felicidade...

A mensagem do poeta chinês Kuam-tzu reza:

“ Se teus projetos são para um ano, semeia o grão;
Se não para dez anos, planta uma árvore;
Se não para cem anos instrui o povo;
Semeando uma vez, o grão, colherás uma vez;
Plantando uma árvore,
Colherás dez vezes;Instruindo o povo, colherás cem vezes”.
Outro sábio chinês Confúcio ( 36), já dizia:
“ Mesmo que soubesse que o mundo acabaria amanhã, ainda assim eu plantaria uma macieira”.

Conclui-se daí que a felicidade perene não passa de uma utopia;a felicidade é, portanto, sentimento periódico, como: brincar com um bebê inocente, com um cachorrinho arteiro, participar de uma competição olímpica, ter uma refeição com amigos íntimos, descontraidamente, ler um bom livro, assistir a um bom filme, participar do êxito do  cônjuge, dos filhos dos amigos,etc.

Os momentos felizes para os chineses são aqueles em que o espírito está inseparavelmente ligado aos sentimentos: 1) a chuva após um dia quente, depois da qual cessa a transpiração; 2) um amigo, a quem não vê há anos, chega de súbito, ao pôr-do-sol; 3) beber alegremente com amigos românticos; 4) ouvir as risadas alegres dos filhos; 5) receber o elogio: “ Como és generoso”, 6) à noite, ter a impressão de sentir que alguém está pensando na gente; no dia seguinte, ao visitar essa pessoa, ela nos receber de braços abertos; 7) terminar a construção de sua resistência; 8) encontrar uma carta manuscrita de algum velho amigo e’m um baú; 9) regressar ao lar após grande trajeto e ouvir o seu próprio dialeto; 10) acabar de pagar todas  as dívidas. Observa-se que, em nenhuma dessas situações, existe agressividade destrutiva, tal como a inveja, o ressentimento, etc. Logo, a felicidade tem por base o amor. Ser feliz é  amar e ser amado; amar não só um indivíduo, mas, também, ser correspondido por ele, sentindo-se querido e útil; amar não é só ligação afetiva entre dois indivíduos; é também dedicação às artes, às ciências, à humanidade, etc. Toda a dedicação a um objeto, com plena capacidade libídica, é Amar, motivo pelo qual, em comparação simplista, a  substituição de Deus por Amor, libido (“Eros, força criativa).

Devemos ter humildade de Bion (4), reconhecendo que “ após muitos anos de esforços, alcancei, afinal, a capacidade de sentir pavor pelas profundezas de minha ignorância”.

Tal como os dinossauros foram donos do universo na era mesozóica, o hominidae, contemplado pelo Criador com a alma (mutuação no cérebro pré-frontal e desenvolvimento das conexões dendríticas, sistema reticular o circuito de Papez), possui ainda muitas, características tanáticas dos seus antepassados, homens das cavernas, motivo pelo qual o   seu canceroso crescimento atômico poderá determinar a etapa final da vida neste planeta.

Em sua série evolutiva, desde o Homo Brutus, passando pelo Homo Mythicus ou  Phantasiosus, ultrapassando a bela etapa do Homo ludens, ao conseguir atingir o Homo  sapiens, estará mais perto da felicidade. Se deixar de ser Homo dependens, atingirá o Homo  erogenus, primeira etapa de maturidade emocional, para finalmente galgar a serenidade da  sabedoria, a ataraxia, o ser supremo: Homo moralis ou, melhor ainda, Homo noumenon, espiritual.

“ Não receies a adversidade...
Lembre-se de que os papagaios de papel
Sobem contra o vento, e não em favor deles”.

Poucos indivíduos chega à maturidade como aquele filho na poesia de Tagore (113):

 “Mãe teci para teu colo uma grinalda de pérolas, feita de lágrimas dos meus infortúnios...
As minhas penas foram criadas por mim, e quando as trouxe para tas ofertar, pagaste-me com a graça do teu perdão”.

Á custa de longo tratamento pela psicoterapia profunda ou, raramente, após profundo conhecimento e meditação, pode-se conseguir conscientizar-se das sete moradas de Santa Tereza de Jesus,segundo Baudovin apud Rof Carbalho (45); a 1ª morada é a morada dos escrúpulos obsessivos; a 2ª morada é o perigo de desejar os prazeres, livremente; a 3ª morada consiste em enfrentar os perigos da “persona”, querendo que todos o admirem por medo de revelar as coisas ruins a ser rejeitado por possuí-las; a 4ª morada é aquela em que a Santa Tereza afirma haver descoberto “ a diferença que existe entre o entendimento e a imaginação” (é o conhecimento das funções do ego); na 5ª morada, a alma é comparada a um guzano de seda  (feito e disforme) que foi chamado a “morrer” para converter-se em uma bonita mariposa”; tal como São João diz, comentando a parábola do grão de trigo: “deve morrer para que nasça um novo fruto”; similar ao renascimento de Aquiles, somente com o  defeito no calcanhar, ou ao renascer de Vishnu, puro, sem os conflitos das fantasias inconscientes que tanto prejudicam o Homo sapiens; esse desdobramento seria a dissolução da ambigüidade  exercida pela “ sombra dos ancestrais” dos negros africanos, ou pelo Karma, da religião indiana ou, em linguagem analítica: a identificação com os objetos bons: na 6ª morada, brotaram por todas as partes as imagens jupiterianas, como se o  indivíduo levasse consigo um poder e uma autoridade; na 7ª morada é onde manifesta o sol possuidor de tanta luz, que esparramaria sobre todas as potências interiores...

“Não vos peço a miséria aborrecida,
Nem riqueza tamanha que me tente;
Daí-me, Senhor, o necessário à vida,
Serei contente”.

De não estarmos divorciados do conceito da Bertrand Russell, “ a vida deve ser inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”.
Ir cantando com o Huexotzingos, do México:

 “ Io assi he de irme
Como lãs flores que perecieron
Nada quedará em mi nombre
Nada de mi fama aquí en la tierra
Al menos flores, al menos cantos”.         

    
Amor e violência estão presentes em todas as formas de relação humana mas, sobretudo, na relação entre homem e mulher.

“Todo homem mata aquilo que ama”, diz Oscar Wilde na “ Balada do Cárcere de  Reading”.(54)

Matar aquilo que se ama, significa negar o objeto do desejo, na ilusão de abolir o  próprio desejo, desse modo, escapar das frustrações inevitáveis de uma ligação amorosa, que são especialmente dolorosas, como dizem os poetas.

Goethe que seria o mundo sem amor? Exatamente como a lanterna mágica sem luz: nada” (14,a).

George Santayana na peça “The Last Puritan” Mário tu não mamaste em tua mãe”. Não, não sabes amar u’a mulher! (48)

Luta-se por uma nova vida e isto abre os canais da criatividade... No mito, todos aqueles que foram  em busca do conhecimento, sofreram ou morreram pelos Deuses, agora é buscar o conhecimento das fantasias inconscientes, solucioná-las e somente assim chegar-se-ia ao Homo Noumenon, sem Hybris (orgulho e arrogância), sem ter pecado sexual e culpa da fantasia de assassinar os pais. Não mais expulso do Paraíso... vivendo em Arete, uma existência boa e nobre...

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