O Mito do Eterno Abandono e a Repetição Compulsiva

TEMA: “Investigação em Grupos”
IV Encontro LusoBrasileiro de Psicoterapia Analítica de Grupo e Grupanálise
Grupanálise e Clínica Médica - Personalidade Ocnófila

Prof.Dr.Luiz Miller de Paiva
Alina M. A. P. Nogueira da Silva

1. INTRODUÇÃO

Devido ao fenômeno da reprogressão (Miller Paiva e tal - 1968), o ser humano ficou exageradamente dependente dos pais. Essa dependência concorreu para exacerbar o medo de ser abandonado - daí o Mito do Eterno Abandono. Esse mito é causador de uma insegurança ontológica ou da angústia existencial. O indivíduo reage a esse abandono, praticando a repetição compulsiva, que dificulta a compreensão e favorece análises terapêuticas intermináveis ou reação terapêutica negativa.

A inveja inata, ódio à figura combinada persecutória (mãe e pai combinados), é característica do hominidae, em decorrência do maior desenvolvimento do cérebro pré-frontal, das conexões dendríticas, da maior capacidade química dos neurônios e da formação do superego.

O estudo da mitologia nos ilustra muitos conflitos inconscientes e conscientes sofridos pelo homem através dos tempos. Tal o caso de Perseu ao enfrentar as fúrias (Megera, Alecto e Tisífone) para matar a Medusa ou Gorgona, representante máxima da mãe fálica e má e assim tornar-se livre para a boa execução do ato genital. O quadro de Dorothéa Tanning denominado “Noite Nupcial” é o mais explícito, quanto ao medo do homem no coito. Orfeu que, perdendo Euridice (esta, fugindo do sedutor Aristeu, foi picada por uma cobra e veio a falecer; simbolicamente o medo de prevaricar), tornou-se misântropo e fixado na figura de Euridice. Prosérpina prometeu que se ele não olhasse para trás, Euridice reviveria e iria juntar-se a ele, todavia, o seu tanatismo não o permitiu ser feliz: juntou-se a sua amada e voltou a cabeça para trás... Orfeu não tolerou o abandono, que o levou a dissociar-se da sua parte inconsciente.

O abandono de Medéia, por seu marido Jasão, fê-la degolar todos os filhos de sua união com Jasão - predominou o sentimento filicida, similar a Nêmesis.

Essa condição do eterno abandono é decorrente da falta de amor, reverie, dedicação e afeição da mãe para com o filho, segundo a teoria bolwbiana (1984). Quanto mais distante da mãe, ficar a criança (até 3 anos), maior probabilidade terá de produzir fantasias agressivas ou mesmo assassinas à figura da mãe, principalmente quando nasce com ego frágil ou esburacado (Ammon, 1947), que irão produzir um intenso sentimento de culpa.

Cada vez mais tem-se valorizado os períodos de molde na formação da personalidade e, principalmente, no comportamento agressivo. Nós, psicanalistas, temos poucos pacientes nos quais podemos observar o comportamento assassino, decorrente de traumas nos períodos de molde, mas o suficiente para entendermos a mente assassina.

O estudo de 4.269 nascimentos, feito por pesquisadores de Los Angeles e da Dinamarca, veio mostrar que as crianças rejeitadas pelas mães e que tiveram, também, traumas de nascimento, cometiam assassinatos violentos, principalmente na adolescência (aos 18 anos, no cume da curva estatística) (Reine et al, 1994).
Esse estudo estatístico, orientado por Mednick (1994), veio, portanto, confirmar as nossas observações clínicas - a importância do amor e de segurança, nos períodos de molde.

O ódio, enquanto relação com o objeto, é mais antigo que o amor, e provém do repúdio originário que o ego narcísico tem ao mundo externo. É somente com o estabelecimento da organização genital que o amor se torna oposto ao ódio porque, em geral, amor e ódio são irmãos; o oposto ao amor é a indiferença, daí o intenso sofrimento do paciente com Doença do Neutro (Miller Paiva, 1995 - 1996). Muitas vezes, romper com o analista, é conservá-lo, e isso não é a mesma coisa que separar-se dele, fato que sói ocorrer, na reação terapêutica negativa.

Uma das mais graves angústias de abandono é decorrente do sentimento filicida, que está ligado (tipo bumerangue) ao parricídio.

O sentimento paranóico do homem (Koestler-1969 e Squilassi-1992) seria consequente de um estado desagradável de medo, ligado a algo não claramente identificado, similar à culpa ancestral que, para nós, seria a culpa inconsciente por ter tido fantasias hostís aos pais, no período de molde.

A formação, durante a evolução de um córtex de dimensões consideráveis entre os mamíferos inferiores, pode ser considerada como a tentativa que a natureza faz de dotar o cérebro reptiliano de uma “calota pensante”, e libertar os animais, e comportamentos estereotipados inadequados. É como se o cérebro reptiliano estivesse sob a dependência de um superego ancestral. Haveria uma dependência neurótica, pois, de fato, não se acha equipado para se adaptar a situações novas.

Na neurose obsessiva, a compulsão parece ser um ato automático necessário e quase inconsciente (estrutura primária devido a defeito do sistema nervoso, no cérebro reptiliano), pela necessidade de defender-se da culpa inconsciente; todavia, “separar-se”, em psicanálise, pode ter dois sentidos: o da simples separação, mas com as conseqüentes reações afetivas e, segundo, o de ser sentido, tal como uma perda de parte do ego, como sói acontecer nas ausências reais do terapeuta (Miller Paiva, 1987).

A Compulsão à repetição é ansiedade, associada à dependência do objeto primário, reativando a situação mais arcaica de inveja. O ódio e a ambivalência resultantes, com seu desdobramento inevitável em culpa e depressão, tornam-se intoleráveis. A repetição parece sobrepujar o princípio do prazer.

Na Doença do Neutro, o paciente necessita repetir a sensação de abandono, e para tal, utiliza-se da agressão ao analista - a necessidade de ser novamente abandonado.

O mito do eterno abandono (Miller Paiva, 1997) somente se torna real, na medida em que repete um arquétipo, assim a realidade, só é atingida pela repetição.

Uma paciente desejava ter relações sexuais com o analista, para então, ao repetir esse desejo, não recordar o seu desejo incestuoso, e sim, para repetir, mesmo em lugar de recordar, certas situações de sua infância, nas quais, sentia-se marginalizada, excluída do triângulo amoroso; ela desejava ser agora, a primeira desse  triângulo, na figura do analista. O resistido foi a vivência da cena primária, com angústias  paranóides. Em “acting-out”, com outro homem, tornou-se frígida. O ena­moramento com o analista, seria resistência a não re­cordar a sua exclusão do triângulo dos pais.

Estamos com Amate-Mehler (1996) e Galddini (1982): a repetição compulsiva (similar ao impulso do obsessivo ou do toxicômano) é primária, em conseqüência de defeito estrutural  específico do sistema nervoso, acarretando insegurança ontológica ou ego frágil (conseqüência da excitabilidade do cérebro reptiliano) devido a fator genético, e exacerbado nos períodos de molde, como sói ocorrer na foraclusão Lacaneana; daí a dificuldade de se fazer psicanálise nas psicoses.

Tal como o salmão desova a milhares de metros de distância ou o cão urina, demarcando o seu território, a compulsão,  na neurose obsessiva, tem muito de instintivo, daí a sua melhora também, com determinados medicamentos que tonificam o tronco cerebral (cérebro reptiliano).

2. MATERIAL CLÍNICO:

Em dois grupos, tivemos pacientes com síndromes clínicas que nos levaram a focalizar, com muita atenção, o problema do eterno abandono. Todos esses pacientes sofreram abandono da mãe ou, então, a fantasia de ser abandonado, tanto pela mãe, como pelo pai, produzindo síndromes diversas.
Na clínica, temos inúmeros exemplos de atitudes de obsessão compulsiva.

Caso 1 - Ao se elogiar algo de bom que o paciente tenha trazido, significando maturidade (paciente, que ficara 2 anos somente se lamuriando e reclamando do terapeuta), ele retruca imediatamente, dizendo: “não, não é bem assim”; tal como quem ri na sexta, irá chorar no domingo... Está tão impregnado de instinto de morte, que não lhe é permitido se sentir melhor e com direito de ser feliz.

Caso 2 - No caso de pânico (que é muitas vezes fantasia inconsciente de assassinar os pais), uma paciente parou o carro na marginal e telefonou para que sua mãe viesse buscá-la, tal a necessidade de vê-la viva e que lhe desse proteção, visto a sensação de abandono ser intensa, decorrente da culpa de fantasiar o assassinato da mãe.

Caso 3 - Paciente de 40 anos, comerciante, casado com filhos, veio à consulta por causa da síndrome de pânico. Estava tomando clorimipramina e ansiolítico, melhorando das crises.

Durante a grupanálise, revelou o intenso ódio a seu pai. Trabalhava sob o controle do pai e este era agressivo, indelicado e impulsivo, fazendo urdidura tanática entre ele e os seus irmãos. A sua queixa era de ódio e impossibilidade de aceitar seu pai.


Durante a grupanálise, acabou compreendendo a atitude paterna, psicótica, aceitando-o, todavia, durante um acesso de ira contra o pai, mesmo após 4 anos de terapia, teve um espasmo cerebral, ficando hemiplégico por 30 dias, melhorando em seguida, porém continuando com hipertensão.


Na sequência do tratamento revelou, através dos seus sonhos, que estava conseguindo perdoar o pai, e mais seguro na luta pela vida. Após continuar psicoterapia analítica de grupo, sua pressão arterial normalizou-se e conseguiu também abordar o conflito com sua mãe que era seca, “serva do pai”, e pouca afetiva; desde a sua tenra infância sofria a sensação de abandono, insegurança e medo na luta pela vida.

Caso 4 -  Síndrome de Sjogren (Doença auto-imune com mal-estar, fadiga crônica, parestesia, febrícula, secura na boca e olhos, artralgias, púrpura e vasculites tipo eritema nodoso com hemossedimentação e proteina C reativa altas, discreto aumento de alfa 2 gamaglobulina e transaminases, leucocitose, antigenos nuclear - SSA e citoplásmico - SSB e biópsia vascular - devendo se fazer o diagnóstico diferencial de lupus, doença reumatóide, púrpura trombocitopênica, tromboangeite e crioglobulinemia).

Mulher de 45 anos, advogada e juíza, com episódios de dor na parótida, inchaço e secura na boca, com 05 episódios de paralisia flácida no membro superior direito, teve, também periodocamente, formigamento na mãos e pés, modulação lenta da fala, hiperestesia do molar direito, semi-paresia da língua e por vezes, descontrole na coordenação do pés. Pele seca.

Examinei a paciente No.4 quando tinha 6 anos de idade, por ter escamação nas mãos, motivada por ciúme intenso das irmãs.

Em 1972 noivou até 1975. Não se sentia como mulher normal pelo medo de intimidade genital; tinha pavor do ato genital.
Em 1975, teve a sua primeira crise depressiva mais intensa, acompanhada de secura na boca, nos olhos e nas narinas - foi quando terminou seu noivado. Em 1977, gripes fortes frequentes e com febre. Há 4 anos, foi à Brasilia e sentiu-se aborrecida, agravando o seu estado depressivo - ansioso. Sempre teve medo de viajar, seja de avião ou de trem. Há 3 anos, mora com a mãe, porém acha que ela vai morrer. Em 1988, veio nos procurar, novamente, por estar há alguns anos, com Síndrome de Sjogren, atingindo seriamente as parótidas e púrpura. Como não melhorasse, resolveu submeter-se à psicoterapia.

No momento, sofre de púrpura nas pernas, depressão incontrolável (fel na alma), dificuldade no respirar, medo exagerado, tremendamente indecisa, narina frequentemente entupida, alternando com secura intensa, sufocação, frequentes gripes com febre de 37 graus, advindo prostação e pele arrepiada; toma Meticorten, bronco-dilatores e Lexotan 3 mgs., melhorando. Há poucos meses, teve pleurisia com derrame (repetindo o que ocorrera ha 1 ano atrás), tendo produzido queda de cabelo, edema e crises repetidas  de febre, dor no torax e dificuldade de respirar. Tomou o Meticorten, 20 mg, em dias alternados.
Antecedentes pessoais - hepatite, apendicectomia e amidalectomia.
Durante a sua gestação, sua mãe teve ameaça de aborto. Nasceu de 7 meses. Mãe não teve lactação. Vômitava a mamadeira e tudo que engolia; sua mãe se desesperava.  Sempre fora uma criança medrosa, sensível (chorona) , tímida e com muito ciúmes da mãe.
Mãe pouca afetiva, apática, governada pelo marido. Pai amoroso, mas muito severo. Gostava mais do pai. Na escola, deu-se bem. Era muito estudiosa. Menarca aos 13 anos, subsequentes 3/35-40, com tensão (mastalgia, estufamento abdominal, tristeza, irritabilidade e constipação) - MX 11 e M.9. Reflexo patelar discretamente diminuido. Longelinea  Peso: 60   Alt.: 1,70. 

Pai e tios paternos longelíneos  stilineanos, dois com T.P. Concluímos: trata-se de Neurose ansiosa - depressiva - astenia, com manifestações histéricas, agorofóbicas e síndrome de Sjogren.
Durante o tratamento de grupanálise, todas as vezes que brigava com o namorado (14 vezes) aparecia tumor na parótida. Demorou muitos meses para ter relação genital com o namorado, pois julgava que não era normal e sim masculinizada ou com sexo indefinido.
Após o coito, sentiu-se melhor e passou até já ter orgasmo. Todavia, continuava infeliz e com muito medo do futuro e da solidão. Tentou inúmeras vezes separar-se do seu namorado, porém não conseguia; contudo, após sentir-se mais segura, na transferência para com o terapeuta e grupo, conseguiu romper a ligação e não mais teve tumor na parótida e púrpura, embora seu clínico insistisse em usar os corticóides, periodicamente.

Caso  5: Retrocolite ulterativa: Sra. de 53 anos veio à consulta por ser portadora de retrocolite ulcerativa e falta de absorção intestinal às vitaminas e aos minerais. A sua doença começou após ter-se doado extremamente a sua amiga, fazendo um projeto de um Instituto Pedagógico, e sua amiga não lhe agradeceu. Ficou tão desapontada, que não encontrou-se mais com a “amiga”. Tomava cortisona, fazia regime e tomava vitaminas. Com o decorrer da análise, revelou que sua mãe a abandonou, quando ela tinha 8 meses, suspendendo a lactação. Sempre fora submissa ao marido, portador de uma neurose obsessiva grave. Com o decorrer da grupanálise (2 anos), desapareceram as hemorragias instestinais, tornando-se mais compreensiva e tolerante para com o marido e filhos. Os seus sonhos mostraram os seus conflitos de abandono, motivo pelo qual, procurava ser “boazinha”, submissa, serva e tolerante, seja no trabalho, e na família. Uma vez, tendo tido mais segurança transferencial com o analista e grupo, tornou-se firme, lutando pelos seus direitos e perdoando sua mãe pelo abandono e indiferença afetiva.

Caso 6 -  Depressão endógena: Mulher de 30 anos, advogada,  portadora de crises de tristeza, ansiedade (com aficção, taquicardia, falta de ar e dor precordial) e astenia neuro-circulatória. Trata-se com Parmate e Lexotan, prescritos pelo seu psiquiatra de retaguarda. Com o evoluir da grupanálise, revelou o abandono paternal (pai era psicótico, homossexual e com neurose de sucesso; sua mãe era indiferente, seca, não dando compreensão e afeto, subjugada pelo marido). Seus pais sempre diziam  que não gostavam dela e não proporcionavam ajuda, nem  para os seus estudos. 
Durante a grupanálise, mostrou sua insegurança no trabalho, para com seu noivo. Chegava atrasada a todas as sessões individuais e grupais, embora tivesse sido interpretado que se chegasse e tivesse, por ventura, de esperar, sentir-se-ia muito rejeitada. 

Caso 7 - homem de 35 anos veio submeter-se à psicoterapia, por ser portador de úlcera duodenal, não querendo ser operado.
Durante a análise, revelou que somente tem relação com sua esposa, após ela calçar um sapato novo (que jamais tenha andado no cimento), passear pelo quarto, seduzindo-o, e então, pisar na cama e no seu abdômen. Só então, consegue ter ereção e satisfaz o orgasmo de sua mulher. Quando criança, ia deitar nos pés da cama dos pais,e sua mãe, com o pé, friccionava o seu abdômen. Sua esposa submete-se a essa perversão sexual, por ser esta a única maneira de obter uma relação sexual. Pés e sapatos sempre o seduziram.

Trata-se de um homem com insegurança ontológica em quase todas as suas manifestações de vida. Ele se sentia frustrado pela mãe desde os seus primórdios e, por conseqüencia, medo de aniquilamento. Desde criança, tinha pavor de quarto escuro e de ficar só (Mito do Eterno Abandono). Tinha um sentimento de vazio interno (um buraco dentro dele). 
Esse paciente fetichista era indiferente à esposa e ambivalente em relação aos filhos (tal como no esquizo e na doença do Neutro), sempre se comportando como se estivesse lhe faltando algo e sempre buscando algo, que, a nosso ver, era conseqüência da falta de reverie dos pais e da esposa. O interessante é que esse paciente tinha voracidade em sugar o seio de sua mulher, similar ao homossexual, que sugaria o pênis de todos os homens - é a insegurança ontológica (que, na nossa classificação, os toxicômanos e homossexuais estariam juntos em insegurança ontológica - egos fracos).

Em Grupanálise, podemos observar variados tipos de perversão e de fetichismo
Caso 8 - casado, fiel à esposa, prevarica e torna-se inteiramente apaixonado pela amante, submetendo-se a situações humilhantes para obter afeto,  embora continue impotente.
Ele chega a dizer: “Eu a sinto como um fetiche ou tabú, sei lá, só que não posso ficar sem ela...” “Eu preciso apalpá-la, sentir que está ao meu lado”. “Eu fico em êxtase,  tal como um bebê, depois de empanturrado de leite”.
O grupo discute as causas dessa prevaricação e verifica a necessidade do paciente de provar a masculinidade (ele não tem erecção completa para o coito mas, somente, libido, que satifaz o seu ego, isto é, “não me sinto castrado”). O paciente  sentia com “vagina dentata”,  em consequência tinha medo de ser devorado, similar ao que ocorre com os mitos de Medusa ou Gorgona, Lilith, a lua negra (Sicupero, 1987), Lâmia, Harpias, Empusa Esfinge, Danaides, Sereias, Nemésis ou Seres (a mãe da “Face a Face” de Ingmar Bergman, 1976) e, finalmente, Liríope (mãe má internalizada por Narciso - Miller Paiva,1990). Esse é um tipo de Fetiche perverso, como forma de solução da genitalidade, sem destruí-la.
Os membros masculino (caso 1 e 3) se augustiaram diante do masoquismo do paciente (a amante faz dele ”gato e sapato”, tem outro amante e ele tem conhecimento desse fato e se sente impossibilitado de solucionar essa situação desgastante). 

As mulheres (caso 5 e 6) identificam-se com sua esposa no sentido de ter compaixão pela fraqueza masculina e pelo seu sentimento de fidelidade (o paciente gosta da esposa , porém não tem atração genital por ela e faz tudo para que ela não perceba a sua prevaricação). Uma delas , paciente 6, diz que teve uma aventura para ver se conseguia orgasmo vaginal, mas tudo em vão ( ela somente conseguiu orgasmo completo com o marido, depois de 02 anos de grupanálise). 
Os seus sonhos, paulatinamente, vinham revelando a perda de competição e agressão à figura masculina.
Durante as sessões, os sonhos  de vários membros do grupo revelavam medo do coito, pavor de ser destruido pela vagina dentata, utilizando, portanto, o orgasmo e rápido receio de introduzir o pênis ou, para a mulher, o orgasmo exclusivamente clitorídeo. Em análise mais profunda, chegou-se ao primo movens do complexo, medo da figura combinada projetada no terapeuta, sentido  também como fetiche perverso (superposto à imagem da amante), isto é, desejado por ter o falo significante e ser objeto do gozo imaginário, e pela maneira com a qual solucionaria a sua sexualidade sem destruí-la, embora o sentisse como objeto persecutório. Alías, toda criança fantasia um coito canibalístico.  Inúmeros sonhos do paciente 8 revelavam a agressividade, injustiças e desafeto dos seus pais, principalmente quando criança, levando-o à impotência, isto é, medo de participar inconscientemente do canibalismo dos pais (ver quadro de Dali “Canibalismo de Outono).

3 - COMENTÁRIOS:

Estamos de acordo com os ensinamentos DA Escola Grupanalítica de Portugal sobre transferência (Leal, 1993) (Ferreira,1971) (Diniz,1989) (Cruz Felipe,1993) (Machado Nunes,1993), todavia, nestes casos de perversão fetichista, devemos nos ater mais às partes psicóticas da personalidade, isto é, às auto-destrutividades.

A pulsão de morte em grupanálise, que levaria ao sentimento de abandono, se verifica, principalmente na interação grupal; constituiria um arquigrupo (membros dominados por objetos tanáticos), formando a calamidade edípica e encantamento pela morte (devorador e destrutivo) ou um anti-grupo, no qual, os seus membros são privados de identidade, atacando-o e aumentando os seus conflitos, com os objetos maus internalizados e ainda não exorcizados. Nesses dois tipos de grupo, é difícil a formação do aparelho psíquico grupal (matriz grupal, onde os membros do grupo se comunicam verbalmente ou não, isto é, pela teleonomia (Fiumara, 1991) - direção do nosso comportamento pelo programa genético, no qual cada mente está em relação com a mente dos outros).

O obsessivo renega o “Nome do Pai” e o substitui pela “Lei do Seu Impulso”, impregnada de desafio, despeito e rebelião, tornando-se querelante.

Em trabalho anterior (Miller de Paiva, 1990), mostramos como o terapeuta deve estar atento às mensagens contraditórias do paciente, sendo necessário reverter a perspectiva, para se poder entender a dinâmica mental naquele momento, e como usar a interpretação.

Na medida em que a mãe passa a conter as partes más do self do bebê, não é mais sentida com um ser separado, mas como self único e ruim. O mesmo ocorre na terapia. O ódio é  frequentemente dirigido ao terapeuta. Os pacientes podem apresentar características de onipotência e narcisismo, com o fito de evitar sentimentos intensos de raiva invejosa da capacidade do terapeuta. Salientaremos, agora, certos aspectos de fetichismo nas sessões grupais.
3.1 Fetiche e nome do Pai. O paciente, através do prazer sem orgasmo, estaria protegendo-se do gozo mortífero, assegurando a cadeia metonímica do desejo.
Tivemos pacientes que tinham ereção, prazer, mas não conseguiam chegar ao gozo (orgasmo), pois se alcançassem o orgasmo, seriam castrados, devido às fantasias inconscientes de destruirem a figura feminina - é o sistema bumerangue. O Nome do Pai limita, portanto, o gozo (Lacan, 1985).
O cumprimento da LEI PATERNAL ordena que o gozo deve converter-se em “desejo de alcançá-lo”. O gozo fálico é relação objetal, ao passo que o gozo do Outro (feminino) seria um gozo total (toda no gozo), dai o orgasmo só clitorídeo; seria a nosso ver, forma de imaturidade da mulher.
Às vezes, o paciente 8 tinha ciúmes do terapeuta, diante de qualquer mulher do grupo, sentida como érato (deusa da poesia lírica e erótica), repelindo a versão do pai-analista, fazendo dele, o seu desejo. O superego põe em confronto o sujeito com o Nome da Lei (não se trata de lei social de proibição, porém de lei de imposição, imperativa, estrutural e genética, que levaria em consequência ao complexo de castração). (Lacan, 1985).

3.2- Grupo Analítico como Fetiche. O grupo aparece, nesse momento, como potência maciça, totalmente com base nas identificações primárias pélicas - é a imago do arquigrupo (membros dominados por objetos tanáticos, formando a calamidade edípica e com encantamento pela morte (devorador) que primeiramente devora, aniquila, engole, atravessa e penetra os participantes por todos os orifícios do corpo.
Há diferença entre masoquismo, como condição de estrutura (a nosso ver ligado à insegurança ontológica que tem predisposição genética), e a posição subjetiva perversa. O masoquismo erógeno se víncula ao masoquisimo moral, através de castigo e culpa. O masoquista perverso encarna o objeto, via fetiche - para o qual vai oferecer lealmente o gozo do Outro - se põe como dejeto, mas se mantém em cena pelo fetiche ( Avignore, 1990).
É vital romper a superfície pélica grupal, o espelho que reflete a má imagem (os muros das casas de certas Tribos de Niger são decorados de acordo com a tatuagem dos seus moradores) - No “Processo”, de Kafka (1963), o protagonista se suicida em um porão de sua casa, símbolo do útero materno. No “Anjo Exterminador”, do filme de Luiz Bunuel, o grupo não consegue sair do local, significando: o anjo é o mesmo que montava guarda ante a cortina flamígera que obstrui o caminho para o Citere ou “Paraíso Perdido”, de ser livre, portanto, similar a “A Puertas Cerradas”, de Jean Paul Sartre (Apud Kaes, 1977).

3.3 - Fetiche e Cena Primária. O Psiquismo grupal tem em especial como paradigma, a fantasia da cena primária. (Bion, 1996), que tende a criar fantasias na luta de seus membros (ou de um só participante) contra o instinto de morte, daí o grupo elaboraria um aparelho psiquico grupal, surgido do complexo entre as pulsões antagônicas que atravessam cada um dos participantes. Esse aparelho recebe, por identificação projetiva, as partes más dos objetos internos dos participantes, de modo a deixar em resguardo, a sua própria destrutividade - seria similar a capacidade alfa (Bioniana) da mãe analista.

3.4 - O objeto fetiche do paciente A, seria a busca de algo perdido, os pais benevolentes e tolerantes (na realidade seus país eram ferozes, hostís, injustos e viviam em derriça) e ao mesmo tempo, uma recordação encobridora ou o falo materno que não pôde ser adquirido, pois muitas vezes sentia o terapeuta muito passivo. Ele buscava sempre o algo perdido, isto é, a esperança de abarcar os pais bons.

O perverso fetichista vive em constante repetição compulsiva (reclama das sessões que são sempre iguais, os mesmos temas, as parcas melhoras, etc). Outras vezes, sente o terapeuta também como, fetiche perverso, tipo objeto externo inacessível e idealizado, aparecendo daí a inveja do bom, resultando em revolta e resistência às interpretações, reclamando da voz, atitude e indiferença do analista.

O Fetiche-Analista era sentido como objeto que não acalma, paradoxo de presença - ausência, similar ao que sentia na relação genital, a presença de um censor. Esse fenômemo fora observado diante da observadora, sentida como substituta do objeto perdido, a mãe idealizada, mas que não fala, não ataca, não se pronuncia, totalmente passiva, não ajudando o grupo, daí advindo a hostilidade a ela.

Grupo Analítico, vivenciando o FETICHE. Nesse período da Grupanálise, situação sádico-anal, após longo trabalho interpretado e insights vários, surgiu uma Epifânia Heróica ou Ilusão Grupal (Anzieu, 1953), festa decorrente da luta contra o monstro - pais castradores! Haveria, portanto, uma regressão crônológica e tópica, que mobilizaria defesas contra as angústias arcaicas e tentaria unir os membros grupais, através de identificações projetivas e introjetivas.
3.5 - A Fobia do pequeno João foi o objeto imaginário de seu medo. O objeto de fobia inibe e limita, produz repulsão e angústia (ex. vírus da AIDS, barata, etc.).
O Fetiche, ao contrário, produz satisfação, pois não há receio de ser castrado, de ser destruído  como no exemplo de sapato-fetiche. O fetiche oferece vantagem, portanto, ele é agálmico. O objeto fóbico torna seu valor significante, porém fetiche é um símbolo. O sapato é um objeto inanimado e irrisório, porém cumpre a função símbólica de ser o objeto que falta, o falo materno. Nesse mesmo grupo, dois membros,1 e 2, portadores de síndrome de pânico e fobias diversas, medo de adquirirem AIDS, sem mesmo terem tido relação sexual e, um deles, com crises de diarréia durante o almoço, acompanhadas de angústia intensa, as quais foram descobertas, através dos sonhos, fantasias inconscientes de parricídio. Esses pacientes haviam desistido da grupanálise, por duas ou três vezes, assim como, a paciente H, por medo de se conhecerem;  tendo sido interpretado, por várias vezes, que o pânico seria decorrente do medo de assassinar os pais, pois as perversões sempre reprimem algo, e sentiam a perversão, como “Pais-vertidos” (Per = pai e vertido = ou “pere version”), isto é, perseguidores e castradores: desse mesmo modo sentiam, por vezes, o terapeuta, como fetiche perverso.
Um deles, paciente 3, apresentava orgasmo precoce todas as vezes que a esposa revelava-se hostíl.

3.6 - O paciente 9, tinha sentimento de culpa tão forte que inibia a sua curiosidade de saber e de se conhecer. Esse, o paciente desejava ser sacerdote católico. Retirou a sua libido pela mulher por vê-la inatingível, por ser proibida, incestuosa, daí a sua idealização em dirigir a procissão à Virgem Maria. Portanto, quando a proibiçaõ é por ser incestuosa, o desejo é retirado. Impossível  ter relação genital com a mulher=mãe=santa (Virgem Maria) . Fato similar, vamos encontrar no quadro do pintor Caravaggio: “Amor Sacro e Amor Profano”.

3.7 - Torpeza do amor e proibição incestuosa. Quando se pratica a Grupanálise de casal  (esposa em um grupo e marido noutro), na reunião deles em sessão particular e especial, principalmente, no início do tratamento, observa-se que, enquanto um fala, o outro entende justamente o contrário (o terapeuta observa que foi entendido ao contrário). Esse fato demonstra como o casal tem uma preconcepção motivada por sentir o conjuge como objeto incestuoso. Lacan (1985). refere: “Tal o encontro célebre dos amantes, durante um baile de opera - horror! Quando deixaram cair as máscaras, ele não era ele e ela tampouco!” - é a torpeza do amor e a proibição paternal! Cada um deles via no conjuge, a imagem de um dos pais.
Esse grupo, contra a técnica grupanalítica, tomava “cafezinho” e chegara a ter jantares sociais - foi interpretado como forma de fetichismo, isto é, utilizava esse tipo de atuação transferencial (acting-out), não só como forma de agredir o terapeuta, mas, também, como forma de solução de suas respectivas genitalidades, sem destruí-las e, portanto, podendo enfrentar o suposto poder de castração do analista.

Durante anos de grupanálise executada nesse grupo, partindo do protogrupo e arquigrupo, isto é dos estágios caóticos, calamidade edípica, alguns com doença do neutro, períodos de indiferença, os quais, transformam o terapeuta em Pai-Mãe Mortos-Vivos e que recusam perder o objeto mau introjetado. (O terapeuta não pode ser Holofernes que foi decapitado por Judith - “o chefe perdeu a cabeça; todos os assírios fugiram”, entraram em pânico).
O segundo período que esse grupo passou foi o do estágio da fusão e desintegração  (grande mãe fálica e transferência misconceptiva isto é, os pacientes rechaçavam todas as interpretações do analista e os aconselhamentos do grupo. Finalmente, entraram no estágio communitas. Do caos, apareceu a entropia: aquisição do auto conhecimento, auto-confiança, auto-estima e, espirito altruista coletivo ou Koinomia, isto é, passaram da doença do neutro a indivíduos ativos, com pouca culpa. Todos esses fenômenos se processaram através das interpretações do terapeuta que havia utilizado a voz melódica, atitude de firmeza, sem reprovação, sem agressividade e sem censura, conseguindo a transformação da mãe-morta-viva em objeto vivo, isto é, acabaram sentindo a capacidade alfa da mãe-analista e passaram a ter a capacidade de elaborar o negativo.  Dessa maneira de técnica  grupal, isto é, buscando o Graal  (símbolo da re-posse da mãe boa e idealizada) os membros puderam penetrar na Santissima Trindade (pai, mãe e filho ou filha sem inveja, que seria o diabo). Depois cada membro viveu os sentimentos de todos e  todos se tornaram um só, com identidade própria.

Como desejam que o terapeuta feche os olhos para o processo de evacuação mental e para negar os problemas, certos tipos de pacientes reagem às interpretações com ressentimento violento, é a transferência misconceptiva. O resultado é que eles sentem-se mais rejeitados, incompreendidos, culpados, deprimidos porque temem que suas repetidas projeções prejudiquem o terapeuta, com quem acabam se identificando, isto é, sentem-se danificados por esse processo bumerangue de auto-punição.

É como na matriz grupal perversa, os pacientes não trazem materiais de progressos alcançados e sim só falam das dores e insucessos, impedindo o crescimento mental. Os pacientes com essas matrizes perversas, isto é, núcleos psicóticos, procuram destruir o analista e o grupo, ou então, eles preservariam a vida, se  auto-atacando, através de manterem a grupanálise longa e sem resultado. É o tributo que pagam para se pouparem da destruição total (suicídio ou um mal maior), preferindo o mal menor - a neurose de sucesso ou a vitimologia.

Devemos salientar, o mais possível, a parte sadia do paciente recuperável, embora esta esteja perdida naquele momento; todavia, deverá acontecer um insight. Esta capacidade de tolerar a agressividade do paciente dependerá muito do analista, pois ficando firme e seguro, (fornecendo holding e responsabilidade empática), ele transmitirá a confiança no processo terapêutico. Outrossim, é de valor extraordinário a transmissão de inconsciente para inconsciente, quando este está sob o “estado de graça” (saturado de libido) - um estado de fé.

Somente a psicoterapia de base analítica, utilizando a função alfa bioniana, reverie, estimulando a inter-subjetividade do paciente, isto é,  com técnicas empáticas e não somente interpretativas, poderia auxiliar esses indivíduos com distúrbios de comportamento. Todavia, todas as modificações técnicas não substituem o trabalho transferencial cuidadoso que pode ser  gratificante, principalmente quando os portadores de núcleos psicóticos obsessivos conseguem persistir durante anos na psicoterapia e adquirirem certa maturidade emocional.

No mito do eterno abandono, o “holding”, segundo Winnicott (1965), deve ser utilizado, propiciando ao analisando, condições exteriores favoráveis, sob a forma de um equivalente aos cuidados maternos primários, permitindo assim que o desejo de crescer se restabeleça. A técnica, utilizando a análise na regressão, tem sido útil principalmente para que haja reprogressão. Balint (1965) descreve a personalidade ocnófila, cuja característica é a necessidade do analisando tocar, ter contato pessoal ou corporal com o analista, pelo medo de ser deixado ou abandonado. O terapeuta não deve rejeitar esse tipo de analisando,  através da utilização de expressões ásperas, não cordiais, e sim procurar ficar em certa distância formal. Nesse período, o analista deve acompanhar a regressão e interpretá-la discretamente, restabelecendo uma aliança de trabalho que permita analisar a reação do paciente, diante da separação (fim de semana, férias, etc.). Contitui momento útil e privilegiado para interpretar a situação transferencial.

É como o paciente com Doença do Neutro quando diz: “não consigo viver sozinho”, mas complementa: “não consigo me doar”.

Importante é o aparecimento, no analisando, do “portance” (Quinodoz,1993), capacidade de suportar e de elaborar a angústia da separação. O aparecimento do “portance” é similar ao que Grotstein (1991) denomina de “o cimento da auto-regulação”, é sentir que o aparelho psíquico está identificado com algo bom que suporta críticas (e não objeto idealizado). Para se ter “portance”, deve-se transformar o mito de Abrão: enxergar  uma nova experiência religiosa, a fé em Deus (fé no trabalho analítico), em vez de culpar-se pelo sentimento filicida. Outrossim, é transformar a interpretação da Santa Ceia clássica, quando Jesus disse: “Quando o galo cantar, um de vós irá me delatar”, cujas fisionomias dos apóstolos tornaram-se transtornadas. Ao contrário, segundo o quadro de Salvador Dali - todos os apóstolos estão com as cabeças abaixadas, significando: “todos seguiremos a sua doutrina” - é inverter o instinto de morte em instinto de vida!.

4 - CONCLUSÃO:

Através de abordagens profundas sobre perversões, fetichismo e resistências grupais,  o terapeuta conseguiu chegar ao âmago dos conflitos (pensamento-sexualidade, produzido pela mãe beta e  desrespeito ao nome do Pai, e perseguição pela figura combinada), mas para a solução, teve de utilizar o Eros Terapêutico (sobejamente dosado), as interpretações pela voz melódica e firme, e assim pôde levar o grupo, que apresentava manifestações perversas e fetichistas, aos esclarecimentos satisfatórios e aos bons resultados terapêuticos, quando transformaram o terapeuta-fetiche-perverso em significante falo e em mãe alfa (repleta de reverie), figura não mais combinada e sim, unida pelo amor.

RESUMO

Perversão é a palavra, para a maioria, conetada com corrupção e maldade, todavia em sentido científico, ela pode ser alteração ou inversão ou transtorno. Perversão é uma paixão, na qual o desejo suporta o ideal de um objeto inanimado. Ela não é uma simples aberração sexual, mas coloca o primado do falo, realizando uma fixação do gozo em um objeto imaginário, errático.

A Perversão está ligada aos primórdios do pensamento, desde o relacionamento com o seio da mãe, dependendo da sua menor capacidade alfa (afeto equilíbrado) e de falta de reverie (amor especial  com ternura). Se a mãe  ao invéz de pensamento alfa, produzir elementos beta, (afetividade desequilibrada) o bebê se sentirá cercado de objetos inanimados (no caso de um nosso paciente, o sapato); ficou fixado nos pés e sapatos - fetiches. O Fetiche é, então, uma forma de solução de genitalidade, sem destruí-la;  Portanto, é um mecanismo de defesa utilizado. O perverso fetichista nega de um lado,  a castração e , do outro, a considera. No fetichismo, sempre haveria a busca de algo perdido que é, em sua fantasia o falo da mãe. O fetichista não pode admitir que a mãe não tenha falo, portanto, se transforma na mãe, mas com pênis; é o caso extremo e patológico do travesti. 

Em seguida foi abordado o fetiche-perverso na terapia grupal, com vários exemplos de  síndrome do pãnico, Sjogren, retro-colite, depressão, impotência genital, orgasmo rápido, e somente orgasmo clitorídeo para a mulher. Foi focalizada também a diferença de prazer e gozo (no homem há ereção sem terminar o ato e na mulher, frigidez por medo inconsciente, fantasias de destruir o pênis e o homem todo).

O Fetiche é como o tabú, algo que é adorado e, ao mesmo tempo, que pode levar á maldição, tal qual os exemplos dos homens impotentes ou com ejaculação precoce, por enxergar na mulher (fantasias inconscientes) as figuras mitológicas de Medusa, Lâmia, Esfinge, Nemesis e Liríope (mãe má internalisada por Narciso).

Finalmente, foi mostrado como o grupo terapêutico é similar ao conflito familiar: amor-ódio ao terapeuta (Fetiche-analista), constituindo a calamidade edípica. Se o terapeuta não for experiente fará o grupo cair em repetição compulsiva, semelhante ao do Bunuel (“Anjo exterminador”) ou Jean Paul Sartre (“As Puertas Cerradas”). Deveria, portanto, saber lidar com a transferência misconceptiva e utilizar-se de interpretações transferências baseadas em voz melódica  e firme.

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